segunda-feira, 9 de março de 2015

Caçando a Lua Cheia de Março


Todo mês, quando vai chegando a lua cheia, um amigo chamado Miguel Berredo me convoca para para o nascer ou por da lua numa montanha. Miguel é budista e a lua cheia é um evento especial no budismo.

Nesses  primeiros dias de março o tempo estava bem interessante. Pancadas de chuva, muitas nuvens, luz bonita e mudando rápido. Fiz meus estudos no aplicativo The Photographers Ephemeris e vi que o Alto da Ventania seria uma boa opção para o nascer da lua a tarde.


(Na imagem acima a lua cheia - linha azul claro - nasceria um pouco à esquerda do Pico Maior de Magé - clique para ampliar)

Os horários eram interessantes: Lua cheia nascendo às 18:12h e o sol se pondo às 18:17h. Não era perfeito, pois a lua nasceria com o dia ainda muito claro e provavelmente a luz só equilibraria algum tempo após o por do sol, com a lua já distante da linha do horizonte. Mas não custava arriscar.

Fiz um convite pelo grupo do Facebook "Fotógrafos de Montanha". Alguns amigos se interessaram, mas realmente só o Miguel podia ir.

Antes de ir dormir, avaliei como seria o por da lua, na parte da manhã.

(Lua cheia - linha azul escuro - se pondo ao lado do Pico do Congonhas - clique para ampliar)

Na parte da manhã não tinha muito tempo. Teria que ser um "bate e volta" de carro. No The Photographers Ephemeris constatei que da pista de voo livre do Parque São Vicente veria a lua cheia se por bem ao lado do Pico do Congonhas. A combinação de horários também era interessante: Lua cheia se pondo às 5:35h e o sol nascendo às 5:50h. Na prática a lua ia se por sobre as montanhas e isso indicava que o evento ia adiantar um pouco.

No dia da lua cheia madruguei e parti para o Parque São Vicente. A lua cheia estava linda e o céu estava limpo. Montei o equipamento e fui fotometrando a lua e fazendo alguns cliques. Tudo muito escuro ainda. Nada da luz equilibrar. Nas fotos só aparecia a lua.

Dei uma relaxada e fiz um registro do Maciço do Gericinó, parecendo uma ilha cercada de luzes.


(Clique para ampliar)

A lua ia descendo, já tocando a montanha. E nada da luz equilibrar. Só consegui um registro da lua com o perfil da montanha visível no último momento. Acabou ficando uma foto bastante difícil de tratar por conta do ruído. Mas fiz meu registro e, principalmente, curti o momento.


O dia clareou e eu voltei pra casa. Corri para desenroscar meus compromissos para poder subir o Alto da Ventania a tarde.

Eu costumo fazer meus planejamentos de tempo para sempre ter meia hora de margem entre a chegada na locação e o início das fotos. Mas dessa vez resolvi deixar uma margem maior. A inspiração foi o texto abaixo, do ótimo livro The Photographer's Coach, do autor e fotógrafo Robin Whalley:

"When in such wonderful locations it's all too easy to be overtaken by the need to take the photographs whilst the light and conditions are good. This can lead to feelings of urgency. This is not a good frame of mind from which to be shooting scenes of beauty and tranquility. A better approach would be to turn up at a location early and spend some time just enjoying the area and surveying the scene. I don't even mean surveying the scene to identify the best shooting position; I mean simply walking around to enjoy the moment whilst resisting the urge to take pictures. When you are ready to begin you will know it. You will also find a better understanding of the image you want to create and the emotion you want to convey."

Nos encontramos às 15:00 horas em Petrópolis e fomos de carro para o Caxambu. Por volta das 15:30 começamos a subida e lá pelas 16:45 estávamos no cume. Tínhamos pelo menos uma hora e meia para relaxar, curtir, avaliar a situação e escolher enquadramentos.


Do cume logo identificamos que do lado onde nasceria a lua cheia tinha muitas nuvens.Fizemos um lanche e decidimos que era melhor ir para o Contraforte Noroeste, de onde teríamos vista tanto para o por do sol quanto para o lado do nascer da lua.


(foto de Miguel Berredo)

Apesar de estar sol, a gente ouvia sons de trovão e sentia um "ventinho de chuva" vindo do leste. A formação de nuvens sobre a Serra dos Órgãos parecia ser o elemento mais promissor para as fotos. Nessas horas não pode ter ideia fixa. Abandonamos o sol e a lua e começamos a pensar nas composições com as nuvens.


A tarde ia passando tranquila. Como foi bom ter vindo cedo!

A hora do por do sol ia chegando e as nuvens iam mudando de forma e cor, num belo espetáculo da natureza.




Com as últimas luzes do sol consegui fazer uma foto bem bacana:


Depois começamos a arrumar nossas coisas para descer. Já estava com a câmera na mochila quando a lua cheia apareceu sobre as nuvens. Com a lua já bem alta não dava para inventar grandes composições, mas eu fiz um registro.


Uma curiosidade é que essa condição especial de luz e nuvens que pegamos no Alto da Ventania acabou sendo talvez o prenúncio de um lindo halo em torno do sol no dia seguinte, registrado por vários fotógrafos em Petrópolis. Eu já estava viajando a trabalho e não vi.


(Fotos 1 e 2: Raul Leal, foto 3: Luiz Felipe Ferreira Sanseverino, Foto 4: Selma Rebéque, foto 5: Suellyn Carvalho, foto 6: Thiago Braga, foto 7: Sandro Sodré, foto 8: Lucas Gonçalves, foto 9: Ederson Lobo - Fotos publicadas no Portal Acontece em Petrópolis)

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