Por Waldyr Neto -
Lua cheia se pondo sobre os Portais de Hércules, Serra dos Órgãos
(clique na foto para ampliar)
A lua de sangue com eclipse está chegando. É hora de estudar os horários e locações para tentar um bom registro desse evento. Tudo ainda depende de São Pedro... mas de nossa parte o importante é estar preparado.
Nota do autor em 24/07/2018: Este artigo foi originalmente escrito para a Lua cheia de novembro de 2016 e agora eu fiz uma pequena revisão e atualizei os dados para a Lua cheia do dia 27 de julho.
De volta ao texto...
Nesse artigo eu explico como fazer esse tipo de foto. Não necessariamente fotos isoladas da Lua, que são comuns e bem fáceis de fazer. A questão aqui é inserir uma bela lua cheia numa foto de paisagem.
Em tempo, o aplicativo do blog compromete bastante a qualidade das fotos. Você pode clicar para ampliar (melhora um pouco) ou visitar meu álbum de fotos no Flickr.
Se animou? Continue lendo...
A primeira questão importante é entender que uma foto da Lua é tipicamente uma foto diurna. Apesar de ser noite na Terra, você está fotografando o dia da Lua, certo? Uma Lua cheia é extremamente luminosa e é até possível fazer fotos na mão, sem tripé. Na prática é bom usar o tripé para garantir uma foto bem nítida. Tome cuidado para fazer uma boa exposição e não perder os detalhes.
Já inserir a Lua numa foto de paisagem é um pouco mais complicado. Vamos por partes...
A primeira questão é entender o que é a Lua cheia. Basicamente é uma questão de ponto de vista. A Lua está cheia quando você está de frente para ela e de costas para o Sol, ou seja, quando a Lua está sendo iluminada frontalmente, a partir do seu ponto de vista. Colocando de outra forma, é quando Sol e Lua estão em lados exatamente opostos no céu.
Entender isso é fundamental para as nossas fotos, pois exatamente na Lua cheia os horários de nascer do Sol e pôr da Lua, e também pôr do Sol e nascer da Lua, quase coincidem.
Vejamos os horários da Lua Cheia desta sexta feira, dia 27 de julho de 2018 (tendo como referência Petrópolis - RJ e utilizando o aplicativo The Photographer's Ephemeris)
Manhã:
Pôr da Lua: 6:11 a 248,7º
Nascer do Sol: 6:28 a 69,5º
Tarde:
Nascer da Lua: 17:27 a 110,5º (com lua de sangue e eclipse lunar)
Pôr do Sol: 17:29 a 290,4
Reparou as coincidências?
A segunda questão a considerar é o alcance dinâmico (dynamic range), que é o tamanho do contraste de uma cena. Entenda-se por contraste a diferença de luminosidade das partes mais claras e mais escuras. Nossos olhos, por conta do processo de dilatação e contração da pupila, têm uma tremenda capacidade de enxergar detalhes numa cena com muito contraste. Quando vemos uma Lua cheia alta no céu conseguimos também distinguir nuvens, estrelas, a silhueta das montanhas, etc. Já os sensores das nossas câmeras lidam com um contraste bem menor, por volta da metade do que lida o olho humano.
Conclusão: Com a Lua cheia alta no céu, se a gente acertar a fotometria da Lua, o resto da cena fica preto; e se a gente acertar a fotometria do resto, a Lua fica estourada.
Como resolver?
É simples - basta aproveitar aquele momento mágico do nascer e pôr da Lua cheia. Lembra que isso acontece em horários muito próximos do pôr e nascer do Sol respectivamente? É aí que está o segredo. Com a luz do sol na cena o fundo se ilumina, e num curto espaço de tempo temos a luminosidade de Lua e da paisagem equilibradas.
Pôr da Lua ao lado do Pico do Congonhas
(clique na foto para ampliar)
Como fazer (passo a passo):
- Estude os horários e defina onde fazer a foto. O aplicativo The Photographers Ephemeris ajuda muito.
- Chegue cedo, escolha o enquadramento e monte a câmera no tripé.
- Se for de manhã, vai estar bem escuro e a Lua vai estar um pouco acima da linha do horizonte. Se a foto não tem primeiro plano o foco pode ser na Lua. Se tiver primeiro plano é importante utilizar o conceito do hiperfoco. Faça algumas fotos e se certifique de que a fotometria da Lua está correta, ou seja, bem clara mas sem estouros. A chave aqui é não perder os detalhes da Lua.
- Algumas pessoas gostam muito de saber os dados da foto. Com o tempo isso deixa de ser importante, mas acho que é legal dar um exemplo aqui como um ponto de partida: Use a câmera no modo "M" com ISO 100 e abertura f/8. O tempo para fotometrar a Lua cheia pode ficar em torno de 1/40s, talvez um pouco mais ou um pouco menos. O importante é manter fixos o ISO e a abertura e ir variando o tempo para encontrar a fotometria correta.
- O dia vai clareando e você segue fazendo fotos com a Lua bem exposta, sem estouro. Como o passar do tempo o fundo começa aparecer. Mais uns minutinhos e a luz fica bem equilibrada. Continue SEMPRE fazendo a fotometria pela lua. A paisagem se revela sozinha.
- Depois de mais um tempinho a claridade do dia fica muito intensa e a Lua perde o encanto, ou seja, fica bem apagadinha. A janela de tempo que a gente tem para fazer essas fotos é pequena. Se bobear perde.
- Se for de tarde o processo é bem parecido. A paisagem vai do claro para o escuro, mas o processo é o mesmo, ou seja, acerta a fotometria da Lua e espera a luz equilibrar.
De manhã, Lua cheia ainda alta e pouca luz na paisagem
Dia começa a clarear e a luz começa a equilibrar. Quase lá...
Luiz mais equilibrada e Lua já perto da linha do horizonte. Esse é o instante mágico da foto
Repare nas três fotos acima que a luminosidade da Lua é sempre a mesma, e o que muda é a luz da paisagem.
É isso aí pessoal! Torço para que São Pedro nos ajude e que todos consigam suas fotos da lua de sangue com eclipse. O método explicado acima funciona e eu mesmo já fiz várias fotos com ele.
Boa sorte à todos!
Boa sorte à todos!
Nascer da Lua cheia visto do Alto da Ventania, Petrópolis
(clique na foto para ampliar)
Gostou do artigo? Quer ir mais à fundo nessas técnicas? Conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto.