terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Intervenções na Montanha. Qual o Limite Ético?


Protejam o carater natural e selvagem das montanhas e paredes

A recomendação acima é parte da Declaração do Tirol sobre a Melhor Prática em Esportes de Montanha, promulgada pela Conferência sobre o Futuro dos Esportes de Montanha em Innsbruck, em 8 de setembro de 2002, contém um conjunto de valores e máximas que proporcionam uma orientação sobre a melhor prática em esportes de montanha.

http://www.femerj.org/etica/dec_tirol.html (versão traduzida)

A Declaração do Tirol estabeleceu, na frase que abre esse artigo, o limite ético que deve orientar montanhistas e unidades de conservação quanto às intevenções nas trilhas, paredes de montanhas. Pra ilustrar, apresento abaixo alguns exemplos da clássica Travessia Petrópolis - Teresópolis, que está dentro da UC Parque Nacional da Serra dos Orgãos.

Na foto acima está o trecho conhecido como "Elevador". Trata-se de uma rampa bem íngreme com uma fina camanda de solo e vegetação. Como o uso da trilha a capa de solo cedeu, expondo a rocha. Para manter o traçado da trilha e evitar o desgaste da vegetação das laterais, foi instalada uma escada de tachões.

Na foto mais afastada é fácil ver como a escada limitou o desgaste à linha da trilha, o que não acontece imediatamente acima do último degrau, onde já é visível o alargamento do caminho, expondo a rocha.

Está foi portanto uma intervenção desejável, pois a intenção foi proteger o solo e a vegetação da encosta.
Outra boa intervenção, um trabalho voluntário do montanhista petropolitano Endre de Gyalokay. Num grotão bem no final da Travessia o solo arenoso estava se desfazendo. O terreno, desprovido de rocha, não suportava o tráfego de caminhantes. O Endre então projetou e levou a escadinha da foto acima, interrompendo o processo erosivo.

A foto acima é a do lance mais famoso da Travessia, o lance do Cavalinho. É um lance exposto e íngreme, fácil de passar de mochila leve, mas um pouco trabalhoso de cargueira.

Houve muita pressão por parte de condutores comerciais, no sentido de montar uma escada ali. A idéia era facilitar e tornar o lance mais seguro.

O assunto foi amplamente discutido na Câmara Técnica de Montanhismo e Turismo do Parque, e a conclusão foi de que o lance era uma dificuldade natural da trilha, sem erosões ou desgastes que justificassem alguma intervenção. A única concessão foi a manutenção de um grampo "P" no topo do lance, permitindo ao guia dar segurança aos seus participantes. Assim, o tradicional "lance do cavalinho" foi mantido na sua forma natural, o que foi bastante comemorado pelos montanhistas.
A foto acima não chega a ser uma intervenção propriamente dita, mas é a forma feia de sinalizar uma trilha. Pra piorar, a seta desta foto ainda estava apontando para o caminho errado...

Fica muito mais integrado ao ambiente sinalizar trechos de laje com marcos ou totens de pedra, como na foto acima.

Podemos citar também como exemplos de boas intervenções:
- Calçar com pedras trechos lamacentos
- Manter a trilha aberta, para evitar que pessoas se percam e abram novas trilhas
- Fechar atalhos
- Colocar pedras em erosões, interrompendo o processo

E como exemplos do que se deve evitar temos:
- Colocar cruzeiros em topo de montanha
- Colocar cabos, cordas ou escadas, em trechos de escalaminhada na rocha (onde não existe desgaste).
- Pintar setas

Como resumo de todo o que foi dito, vale a máxima:

"As montanhas são como são. Nunca tente rebaixar o nível da montanha para o seu nível. O correto é elevar o seu nível para o nível da montanha".