quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Convertendo fotos de paisagem para PB

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Faz tempo que eu venho pensando em fazer um artigo sobre o tratamento das fotos. O tratamento é uma etapa vital para que se consiga resultado desejado, ou seja, transformar a visão do fotógrafo em uma foto propriamente dita. Entenda-se aqui a visão como aquela imagem mental que surge quando estamos com o olho no visor, capturando uma cena.

Uma das coisas mais frustrantes em fotografia é não conseguir transformar nossa visão em foto. Quem nunca passou por isso?


No slide acima estão embutidas duas armadilhas, ou mais precisamente dois tipos de fotógrafos que, por preconceito ou desconhecimento, não dominam o processo completo.

  • O "purista", que domina o processo da captura e considera o tratamento como algo errado, anti-ético, manipulador, etc. Quando você se deparar com alguém postando uma foto no Facebook com a legenda "sem edição, exatamente como saiu da câmera", você provavelmente está diante de um purista.
  • O "photoshopeiro", que sabe tudo de Photoshop e acha que conserta qualquer lambança feita na captura. As fotos do photoshopeiro costumam ser super saturadas, contrastadas, exageradas, cheias de halos, etc. E tem gente que gosta e curte... 

O bom fotógrafo domina o processo completo. Em paisagem uma boa foto é feita com bastante nitidez, sem estouros, com ISO baixinho e foco correto. E o tratamento vai ressaltar essas qualidades, sendo inclusive parte integrante da "assinatura" do fotógrafo. 

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Quando fazer uma foto em PB?

Alguns fotógrafos trabalham exclusivamente em PB. Ou mesmo que eventualmente façam fotos em cor, não misturam cor e PB nos seus portfólios. Eu já gosto de ter as duas coisas. Gosto de analisar se uma determinada foto "pede" para ser colorida ou PB. Às vezes converto para PB uma foto que simplesmente não deu certo em cor.

Mas como converter? Abaixo algumas formas comuns:
  • Fazer uma foto PB diretamente na câmera, em JPEG. Essa é a saída mais rápida, mas a qualidade costuma deixar a desejar. 
  • Fazer uma foto em cor na câmera (JPEG) e converter para PB no Photoshop. O JPEG em cor te dará um pouco mais de margem de manobra no tratamento. 
  • Capturar em RAW e converter para PB em algum aplicativo. Essa é a alternativa que vai te dar a qualidade máxima e o maior controle sobre a conversão. 

Muitos fotógrafos gostam de usar o aplicativo Silver Efex Pro, que tem uma conversão para PB simplificada com presets bem interessantes. 

Eu já prefiro fazer no Adobe Lightroom, onde trato diretamente o RAW e tenho controle total sobre o processo.

O assunto te interessou? Continue lendo.

Vamos agora tratar uma foto juntos...  

A foto que vai ser convertida foi feita na edição de abril de 2016 do Workshop de Fotografia de Montanha, em Três Picos. Estava com o grupo de alunos nas margens de um laguinho no Vale do Jaborandi. Ao fundo o imponente Pico do Caledônia. Ainda estava bem escuro e o céu não tinha nuvens. 

A captura
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A captura parece um pouco sub-exposta, mas a questão crítica aqui foi evitar o estouro das altas luzes. Em digital uma área estourada é intratável, e por isso tem que ser evitada na captura.

O crop
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O céu sem nuvens não ajudava muito e por isso eu resolvi cropar (cortar) a foto em formato mais panorâmico, concentrando a composição nos elementos mais importantes. 

A conversão para PB
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A conversão para PB no Lightroom é bem simples. Basta clicar em "preto e branco" na parte superior do painel Básico, à direita. No Painel HSL / Cor / P&B é possível ajustar a tonalidade das cores originais formadoras do PB, mas nessa foto eu aceitei o ajuste sugerido pelo Lightroom. 

O tone mapping
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O processo seguinte é chamado genericamente de Tone Mapping, que consiste em fazer as correções de tonalidades em função das escolhas feitas na captura. Basicamente eu levantei um pouco a exposição geral, levantei as sombras, levantei as altas e fechei um pouco as sombras. No final apliquei um pouquinho de "claridade" (claridade é um comando do Lightroom) para avivar a foto. Com isso passei a ter branco, preto e toda uma gama de tons intermediários de cinza que são tão importantes para uma boa foto PB. O tone mapping é feito no painel Básico e é a etapa mais importante do tratamento. Ao final a foto já começa a ficar com cara de foto pronta.

Tonalização dividida, nitidez e redução de ruído
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A tonalização dividida é uma ferramenta que permite colorir um pouco a foto PB, de forma dividida, ou seja, com tonalidades diferentes nas altas de baixas. Eu acabei usando um ajuste que eu gosto, onde eu aplico uma leve tonalidade sépia nas sombras, deixando esse sépia entrar um pouco nas altas. Coisa bem discreta, mas que dá um charme na foto.

A foto está quase pronta, e chegou a hora de ajustar a nitidez fina. Nessa hora você dá zoom de 1:1 na foto (os pixels da foto se encaixam nos pixels do monitor) e vê o detalhe. Apliquei um pouco de nitidez e reduzi bem o ruído. A ideia aqui foi reduzir o ruído digital (que é feio) para depois aplicar a simulação do grão de filme (que e bonito).

Grão
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Nessa etapa, no painel de Efeitos, eu apliquei uma configuração de grão bem forte. Às vezes uso mais, às vezes menos. Raramente uso com fotos coloridas. Após a aplicação do grão os ajustes globais estavam prontos. Hora de fazer ajustes localizados.

Filtro radial - vinheta
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Os ajustes localizados são importantíssimos. Eu costumo dizer que é o diferencial que faz as grandes fotos. O sentido aqui é fazer nas fotos digitais os processos de "dodge" e "burning" que se fazia nas fotos em filme, ou seja, clarear e escurecer seletivamente algumas partes da foto. 

Primeiro eu apliquei um filtro radial no meio da foto, de forma a escurecer um pouco a parte de cima e de baixo (o filtro atuou na área avermelhada da foto acima). Com isso apliquei uma leve vinheta. Eu poderia usar a própria ferramenta de vinheta, mas o filtro radial permite um posicionamento mais exato. No fim, a ideia aqui é fazer uma vinheta que não pareça uma vinheta. 

Filtro radial - levantando as altas
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Depois apliquei um segundo filtro, usando a opção "inverter máscara", para que o efeito acontecesse na parte interna da área selecionada. Basicamente o que eu fiz foi levantar um pouco as altas, reforçando o efeito de vinheta e destacando a linha da montanha. 

Foto pronta! O resultado está abaixo.

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É obvio que um processo como esses envolve algum conhecimento é dá um pouco mais de trabalho. Seria mais fácil aplicar algum filtro ou preset e já ter a foto pronta. Na prática já tentei fazer isso, ou mesmo salvar minhas configurações como presets. Com o tempo descobri que processos como o tone mapping, aplicação de tonalidade e grão acabam pedindo ajustes diferentes foto a foto. Mas enfim, se a gente quer fazer um trabalho diferenciado, original, tem mesmo que fugir dos pacotinhos prontos. 


Se você gostou do tema e quer ir mais à fundo, conheça a


Para finalizar eu deixo aqui algumas fotos de temas variados, onde o processo de tratamento foi essencialmente o mesmo - tonne mapping, tonalização, nitidez, redução de ruído, aplicação de grão, aplicação de ajustes localizados, etc.

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Estrelas e lâmpadas - Equilibrando uma luz difícil

Por Waldyr Neto - 

Refugio Canto da Pedra, Três Picos

Esta semana passei uns dias em Três Picos para tentar descobrir umas locações novas. Fiquei no Refúgio Canto da Pedra, local dos nossos Workshops de Fotografia de Montanha.


A prospecção de locações foi bem proveitosa. Logo no primeiro dia consegui uma linda foto dos Três Picos refletidos num laguinho. Difícil acreditar que eu só fui descobrir essa locação depois de anos visitando Três Picos...


À noite voltei para o Refúgio animado. O céu estava estrelado e eu estava sozinho lá. Era uma boa oportunidade de tentar uma foto do refúgio com estrelas. Me desafiei a fazer uma foto bem difícil, como se fosse a visão do olho humano, ou seja, com as luzes do refúgio naturais, sem estouros, e o céu estrelado. A diferença de luminosidade entre as estrelas e as lâmpadas é imensa. Dei uma boa pensada e defini e executei o processo abaixo:


  • Estava com a Canon 5D mark II e a lente Canon 17-40mm f/4.0 L. Usei a menor distância focal, 17mm, e a maior abertura, F/4.0. Testei 30 segundos com ISO 1250 e consegui uma boa leitura para a luz das estrelas. Todas as luzes da casa ficaram estouradas e a casa ficou bem distorcida. E ainda deu flare... Mas a fotometria das estrelas estava correta. Esse era meu ponto de partida.

  • Pra essa mesma regulagem de distância focal, abertura e ISO, eu baixei o tempo até conseguir uma regulagem onde as luzes da casa não estourassem. Ficou abaixo de 1 segundo. Baixei o ISO para 1000 e começou a dar certo com 1 segundo. Mas a luz principal, a luz branca da sala, continuava estourando. Essa teria que ficar acesa só por uma fração de segundo.
  • Calculei a distância hiperfocal para f/4.0 e 17mm e afastei o tripé da casa até conseguir hiperfoco. A lente bem angular ajuda muito nessa hora. Consegui foco desde os banquinhos até as estrelas.
  • Estava sozinho e não tinha flash. Teria que iluminar a parte de fora da casa com a lanterna. Minha lanterna tem dois fachos – um forte e direcional, e outro mais fraco e difuso. Quando você liga e desliga a lanterna esses fachos se alternam. Como queria usar o difuso, tinha que deixar a lanterna inicialmente no facho direcional. Tinha que pensar em cada detalhe.
  • A regulagem final ficou sendo 17mm; f/4.0, 30 segundos e ISO1000. Ajustei o timer de 10 segundos e disparei. Corri com a lanterna acesa e apaguei ao entrar na casa. Esperei um pouquinho para garantir que os 30 segundos de captura já tinham começado e depois fui no escuro em cada interruptor para acender a luz por um instante. Deixei um tempo menor para a luz mais forte da sala.
  • Corri para fora no escuro, até sair do enquadramento. Acendi a lanterna (agora com o facho difuso) e fui “pintando” de luz a parte externada casa. Como não conseguia ver onde estava o tripé no escuro (estava com medo de bater e derrubar tudo), fui pela frente da câmera mesmo. Mas não apareci na cena, pois ficava sempre em movimento e a casa estava toda apagada. Isso tudo levou uns 5 segundos. Depois saí do enquadramento e fiquei esperando o barulho da câmera, indicando o fim dos 30 segundos.
  • Repeti o processo todo onze vezes, tentando ajustar as luzes. Mas no final a melhor foto acabou sendo a primeira mesmo. 
  • No tratamento no Adobe Lightroom eu corrigi a perspectiva da casa, dei uma ajustada nas altas luzes e nas sombras e depois apliquei um pouco de claridade e nitidez. Finalizei aplicando uma redução de ruído somente no céu, usando o pincel de ajuste. A captura bem feita e sem estouros nas altas me permitiu chegar num resultado bem bacana. Cheguei no resultado que eu queria.


Encerro essa postagem compartilhando um slide da Oficina de Fotografia com Waldyr Neto que mostra o macro-processo que foi seguido. Tudo começa com uma visão, ou seja, aquela imagem mental que é o resultado que a gente quer. Para essa visão virar uma foto finalizada é preciso dominar os processos envolvidos na captura e no tratamento.



Gostou dessa postagem? Quer ir mais à fundo? Conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto.



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E tudo que era efêmero se desfez...




E tudo que era efêmero se desfez. E ficaste só tu que é eterno 

Cecília Meireles


Efêmero, do grego “ephémeros” significa “apenas por um dia”. De forma geral o termo efêmero é associado a tudo que é passageiro, transitório, fugaz, de curta duração.

A fotografia de montanha é a busca pelo efêmero – a luz, as nuvens, a névoa, a chuva, – que por um instante mágico conversam com o eterno – as rochas, as montanhas, os vales...



A beleza das montanhas não basta, pois se fosse só por ela todas as fotos seriam iguais. As montanhas estão sempre lá. Elas são o palco, não a peça. Simplesmente retratá-las é uma armadilha.

O fotógrafo de montanha vai para o eterno e busca o passageiro. O que fará as grandes fotos é a luz, as nuvens, a nevoa, as expressões e gestos de pessoas retratadas, ou até mesmo o conhecimento, o olhar e estado de espírito do fotógrafo. O subjetivo, o efêmero...



Infinitamente belo, insuportavelmente efêmero 

Rubem Alves





Mas nós, os fotógrafos, temos o poder de transformar o efêmero em eterno...




Texto publicado originalmente num cartaz para a minha exposição fotográfica no Clube Excursionista Light.





terça-feira, 27 de setembro de 2016

Como fazer fotos panorâmicas


Deixo aqui aos seguidores do blog e aos amantes da fotografia de paisagem em geral, um pequeno tutorial de como fazer fotos panorâmicas. Esse material faz parte do Workshop de Fotografia de Montanha.

Nota: Não vou considerar aqui as panorâmicas automáticas feitas por algumas câmeras ou até smartphones, pois a saída é uma imagem em JPEG normalmente de qualidade inferior.

A forma mais simples de se fazer uma panorâmica é basicamente cropar (cortar) uma unica foto em formato panorâmico. Normalmente usamos este "crop panorâmico" quando o nosso enquadramento, com uma única foto, é suficiente para abranger a cena que queremos mostrar.


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Já a foto panorâmica propriamente dita é a montagem de várias fotos, possibilitando um enquadramento bem mais abrangente. Veja no slide abaixo como fazer a captura.


(foto de Flaviane Koti)

A captura deve ser feita preferencialmente no formato RAW. Para quem conhece a técnica de fotometria ETTR - Exposing to the Right, basta fazer a medição da luz na foto que tem as partes mais claras e depois replicar a regulagem para as demais fotos. Sombras mais fechadas decorrentes dessa captura serão recuperadas no tratamento.

O procedimento seguinte requer o Adobe Lightroom CC (ou versões posteriores que venham a ser liberadas). O motivo e a nova funcionalidade de montagem de panorâmicas, onde é possível montar uma panorâmica a partir dos arquivos RAW e no final se obter uma foto panorâmica também em RAW. 

Isso simplificou demais o processo de tratamento. Antes era preciso tratar cada foto individualmente até que um único ajuste pudesse ser aplicado igualmente a todas as fotos. E a panorâmica, normalmente montada no Adobe Photoshop, era um arquivo JPEG. 

Mas vamos para o processo novo! Certifique-se de que está no Adobe Lightroom CC e siga os passos do slide abaixo.


Com a panorâmica em RAW na tela, basta fazer o tratamento propriamente dito - tone mapping, ajustes de claridade e cor, nitidez, etc.

O resultado costuma ser bastante impactante.

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Para ir mais à fundo e dominar todas as questões envolvidas na captura em RAW e o posterior tratamento da imagem, conheça o Workshop de Fotografia de Montanha



sexta-feira, 29 de julho de 2016

Açu e Portais de Hércules

(Marcos, Shirlei, Débora, Felipe e eu no Morro Açu)

De volta ao Açu! Convite do Marcos Guimarães. Tinha subido o Açu com ele um ano antes. Veja aqui o relato dessa e outra expedições ao Açu em 2015 que renderam ótimas fotos.

Dessa vez nos acompanharam a Débora Cabral, seu filho Felipe e a Shirlei Bastos.

Com previsão de tempo bom demos entrada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos numa quarta pela manhã.

(foto de Marcos Guimarães)

Botamos as cargueiras nas costas e pegamos a trilha. O grupo ia num bom passo, com poucas paradas.

(foto de Marcos Guimarães)

(foto de Marcos Guimarães)

Chegamos no Açu lá pela hora do almoço. Subida em cinco horas e meia... Um bom tempo. Nos acomodamos no acampamento, fizemos comida e descansamos um pouco. Com o entardecer fomos para o cume do Açu onde fica a cruz. 

(Marcos, eu, Shirlei, Débora e Felipe - foto de Marcos Guimarães)

A brincadeira da tarde foi tentar repetir a foto feita um ano antes que acabou virando a capa do meu novo livro Pé na Trilha de Bem com a Vida. A luz estava parecida, mas a lente era outra, mais angular. As fotos seguem abaixo.

(aqui a foto de 2015, com Marcos Guimarães, Louis Perry e eu)

(e a foto de 2016, com Marcos, Shirlei, Débora, Felipe e eu)

Depois ficamos curtindo o finalzinho do entardecer e a chegada do frio.


Voltamos para o acampamento. Sopinhas, chazinhos, todo mundo reforçando os casacos... logo ficou uma linda noite estrelada. Arrumei a tralha e voltei pro batente. Com uma lente super-angular eu consegui uns bons registros.


Tentamos dormir cedo para madrugar na quinta. A trip seria caminhar até os Portais de Hércules antes do amanhecer. A noite foi tranquila - frio bem suportável.

Acordamos pontualmente às 4:00. Arrumamos nossas coisas e pegamos a trilha às 4:20. Um grupo muito grande também iria para os Portais e a gente queria abrir uma frente e evitar congestionamento no caminho.

Chegamos nos Portais com o primeiro filete de luz no horizonte. Começava a hora mágica e a gente estava lá... Portais de Hércules, o mais belo mirante da Serra dos Órgãos. Shirlei, Débora e Felipe estavam lá pela primeira vez. O show ia começar...


Tinha feito um estudo prévio no The Photographer's Ephemeris e vi que o sol nasceria bem no limite de ficar escondido na parede esquerda dos Castelões. Isso me daria uma pequena janela de tempo para fotografar o amanhecer sem ter o sol estourando direto na lente. Abaixo o estudo.

(A linha do nascer do só é a amarela. clique no estudo para ampliar)

Na hora certa consegui meu clique. Daquelas fotos que valem todo o planejamento e esforço.


Nota em 12/04/2016

Essa foto ficou em 3º lugar na categoria full-frame do Concurso da Canon College, tema Natureza Exuberante, com 4.446 inscritos e tendo o Araquém de Alcântara e Jonne Roriz como jurados.

O vento encanado dos Portais de Hércules gelava até a alma. O nascer do sol acabou sendo um alívio. Arrumamos nossas coisas e nos prepararmos para retornar ao Açu. Fiz um último registro do grupo e partimos morro acima.


O retorno ao Açu foi tranquilo. Turma bem humorada e boa de trilha. Depois de um bom café da manhã o grupo começou a se arrumar para partir. Eu ainda queria ficar mais um dia para tentar uma investida no Pico do Eco. Se desse certo, madrugaria na sexta-feira para fotografar o amanhecer de lá.

Me despedi de todos, montei uma mochila bem leve e parti para uma caminhada solitária até o Pico do Eco. Logo no início vi que não seria moleza, pois mesmo o caminho até o Falso Eco estava bem fechado. Era um tal de varar capim de anta que tornava tudo cansativo. No Falso Eco peguei a descida das lages e a coisa acabou sendo mais tranquila. Logo já estava vendo o riacho e o Pico do Eco mais abaixo.


Caminhei mais um pouco e fiz uma última travessia no capim de anta até o riacho. Abasteci o cantil e me preparei para o trecho final. Consegui identificar o início da trilha e comecei a descida para o vale do Eco. Mas a trilha logo sumiu e eu voltei a varar capim de anta. Tentava identificar a trilha de subida do Eco e não via nada. Parei pra avaliar... estava sozinho, ali naquele fim de mundo... seria até fácil continuar varando capim de anta morro-abaixo. Mas vencer capim de anta morro-acima na volta seria insano. Era mais sensato voltar...

Tão perto e tão longe... fiquei ali observando o Pico do Eco desanimado.


Iniciei o penoso retorno até o Falso Eco. Mais capim de anta, e o bonito e desolado trecho das lajes. Nesses campos de altitude ao sul do Morro Açu a sensação de estar sozinho é surreal. Pra amenizar botei um Jimi Hendrix no headphone e subi curtindo o som e o visual. 

No Falso Eco inventei umas fotos. Acho que vale voltar lá com uma luz mais bonita.


Depois retornei ao Açu, subindo lage, varando mato...

Cheguei no Açu, fiz meu almoço e tirei uma boa soneca na barraca. Portais de Hércules e investida no Pico Eco me deixaram bem cansado...

À tardinha subi para o cume do Açu. Queria fazer umas fotos mas uma queimada no Bonfim estava enfeiando a cena. Dei uma caminhada procurando alguma coisa para preencher o primeiro plano e esconder a fumaça. Consegui uma bela composição. É curioso com uma adversidade pode aguçar nossa criatividade. Fechei meu Açu com chave de ouro.


Na sexta feira nem me preocupei em ver o nascer do sol. Quando clareou eu desmontei acampamento e iniciei a descida. O Pico do Eco vai ficar para outra oportunidade.

No final cervejinha gelada, almoço no Tourinho's Bar... tudo de bom! Essas excursões deixam a gente com a alma lavada...


Conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto