sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Montanhista

Eu poderia mesmo definir o montanhista como um ser que, hipercrítico de si mesmo, encontrará motivos de felicidade quando conseguir vencer provas, consideradas por ele difíceis e arriscadas. Vencer o medo que às vezes existe, apesar DA experiência. Jogar com a vida por façanhas, que ele e outros poucos acham importantíssimas. Dar a vida em troca do nada, do anonimato. É um sentir-se herói sem fanfarra e propaganda, mas sentir-se ser humano, neste mundo já cheio de conforto e segurança. Saborear o valor e a alegria de viver, quando momento antes quase a perdeu. É acreditar em alguma coisa, na honra, na sinceridade, em Deus.

Este é o montanhista, o Dom Quixote desta época, que embrutecido pelo materialismo, ainda encontra motivo de vida na luta contra esses gigantes de pedra e gelo, esses enormes e estáticos cavaleiros criados pela Natureza, para que alguém sentisse o prazer do duelo limpo e cavalheiresco. A vida contra o nada, pela estática e pelo prazer da luta.

A esse espírito essencialmente místico e romântico, alia-se o prazer da beleza do branco das neves e das geleiras, do azul do céu, dos paredões graníticos sinistros, ao verde dos vales. Acolá o perigo e o risco, aqui a vida fascinante e serena.

Texto de Domingos Giobbi [Montanhista do Clube Alpino Paulista, pioneiro brasileiro em escaladas de alta montanha na Europa e nos Andes].

Foto de Flávio Varricchio com minha Canon G11.