sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Estrelas e lâmpadas - Equilibrando uma luz difícil

Por Waldyr Neto - 

Refugio Canto da Pedra, Três Picos

Esta semana passei uns dias em Três Picos para tentar descobrir umas locações novas. Fiquei no Refúgio Canto da Pedra, local dos nossos Workshops de Fotografia de Montanha.


A prospecção de locações foi bem proveitosa. Logo no primeiro dia consegui uma linda foto dos Três Picos refletidos num laguinho. Difícil acreditar que eu só fui descobrir essa locação depois de anos visitando Três Picos...


À noite voltei para o Refúgio animado. O céu estava estrelado e eu estava sozinho lá. Era uma boa oportunidade de tentar uma foto do refúgio com estrelas. Me desafiei a fazer uma foto bem difícil, como se fosse a visão do olho humano, ou seja, com as luzes do refúgio naturais, sem estouros, e o céu estrelado. A diferença de luminosidade entre as estrelas e as lâmpadas é imensa. Dei uma boa pensada e defini e executei o processo abaixo:


  • Estava com a Canon 5D mark II e a lente Canon 17-40mm f/4.0 L. Usei a menor distância focal, 17mm, e a maior abertura, F/4.0. Testei 30 segundos com ISO 1250 e consegui uma boa leitura para a luz das estrelas. Todas as luzes da casa ficaram estouradas e a casa ficou bem distorcida. E ainda deu flare... Mas a fotometria das estrelas estava correta. Esse era meu ponto de partida.

  • Pra essa mesma regulagem de distância focal, abertura e ISO, eu baixei o tempo até conseguir uma regulagem onde as luzes da casa não estourassem. Ficou abaixo de 1 segundo. Baixei o ISO para 1000 e começou a dar certo com 1 segundo. Mas a luz principal, a luz branca da sala, continuava estourando. Essa teria que ficar acesa só por uma fração de segundo.
  • Calculei a distância hiperfocal para f/4.0 e 17mm e afastei o tripé da casa até conseguir hiperfoco. A lente bem angular ajuda muito nessa hora. Consegui foco desde os banquinhos até as estrelas.
  • Estava sozinho e não tinha flash. Teria que iluminar a parte de fora da casa com a lanterna. Minha lanterna tem dois fachos – um forte e direcional, e outro mais fraco e difuso. Quando você liga e desliga a lanterna esses fachos se alternam. Como queria usar o difuso, tinha que deixar a lanterna inicialmente no facho direcional. Tinha que pensar em cada detalhe.
  • A regulagem final ficou sendo 17mm; f/4.0, 30 segundos e ISO1000. Ajustei o timer de 10 segundos e disparei. Corri com a lanterna acesa e apaguei ao entrar na casa. Esperei um pouquinho para garantir que os 30 segundos de captura já tinham começado e depois fui no escuro em cada interruptor para acender a luz por um instante. Deixei um tempo menor para a luz mais forte da sala.
  • Corri para fora no escuro, até sair do enquadramento. Acendi a lanterna (agora com o facho difuso) e fui “pintando” de luz a parte externada casa. Como não conseguia ver onde estava o tripé no escuro (estava com medo de bater e derrubar tudo), fui pela frente da câmera mesmo. Mas não apareci na cena, pois ficava sempre em movimento e a casa estava toda apagada. Isso tudo levou uns 5 segundos. Depois saí do enquadramento e fiquei esperando o barulho da câmera, indicando o fim dos 30 segundos.
  • Repeti o processo todo onze vezes, tentando ajustar as luzes. Mas no final a melhor foto acabou sendo a primeira mesmo. 
  • No tratamento no Adobe Lightroom eu corrigi a perspectiva da casa, dei uma ajustada nas altas luzes e nas sombras e depois apliquei um pouco de claridade e nitidez. Finalizei aplicando uma redução de ruído somente no céu, usando o pincel de ajuste. A captura bem feita e sem estouros nas altas me permitiu chegar num resultado bem bacana. Cheguei no resultado que eu queria.


Encerro essa postagem compartilhando um slide da Oficina de Fotografia com Waldyr Neto que mostra o macro-processo que foi seguido. Tudo começa com uma visão, ou seja, aquela imagem mental que é o resultado que a gente quer. Para essa visão virar uma foto finalizada é preciso dominar os processos envolvidos na captura e no tratamento.



Gostou dessa postagem? Quer ir mais à fundo? Conheça a Oficina de Fotografia com Waldyr Neto.



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E tudo que era efêmero se desfez...




E tudo que era efêmero se desfez. E ficaste só tu que é eterno 

Cecília Meireles


Efêmero, do grego “ephémeros” significa “apenas por um dia”. De forma geral o termo efêmero é associado a tudo que é passageiro, transitório, fugaz, de curta duração.

A fotografia de montanha é a busca pelo efêmero – a luz, as nuvens, a névoa, a chuva, – que por um instante mágico conversam com o eterno – as rochas, as montanhas, os vales...



A beleza das montanhas não basta, pois se fosse só por ela todas as fotos seriam iguais. As montanhas estão sempre lá. Elas são o palco, não a peça. Simplesmente retratá-las é uma armadilha.

O fotógrafo de montanha vai para o eterno e busca o passageiro. O que fará as grandes fotos é a luz, as nuvens, a nevoa, as expressões e gestos de pessoas retratadas, ou até mesmo o conhecimento, o olhar e estado de espírito do fotógrafo. O subjetivo, o efêmero...



Infinitamente belo, insuportavelmente efêmero 

Rubem Alves





Mas nós, os fotógrafos, temos o poder de transformar o efêmero em eterno...




Texto publicado originalmente num cartaz para a minha exposição fotográfica no Clube Excursionista Light.