domingo, 7 de dezembro de 2008

Novas vias na Pedra da Ferradura

A Pedra da Ferradura (ver post anterior) vai se consolidando com um interessante point de escalada em móvel, contando agora com mais duas vias. A relação atualizada de vias, da esquerda para a direita na foto acima (clicando na foto dá para ampliar), é a seguinte




  • Via Fernando Funchal 3ºIV 100m (Waldyr Neto e Alex Che Ribeiro), via toda em móvel (todos os tamanhos) com P1 em grampo e final na grande árvore. Destaque para um bonito diedro na primeira enfiada.


  • Via Fissurados 4º 90m (Waldyr Neto e Marcelo Garcia), início em grampos seguido de linda fenda de 25m em móvel (nuts, micronuts e friends pequenos) segunda enfiada protegida em grampo e final na grande árvore.


  • Via Um Pássaro que Cai 3ºIV 85m (Alex Che Ribeiro e Fernandes), toda protegida em grampos, é a linha utilizada para rapel a partir da árvore. Aderências, abaulados e uma bonita barriga em agarras.


  • Via Alexandre Motta, 2ºIII 100m (Waldyr Neto e Alex Che Ribeiro), toda em móvel (peças de todos os tamanhos) com parada em móvel e final na grande árvore. Destaque para o interessante diedro final, que não é visível da base.


Já nas primeiras idas na Pedra da Ferradura, me interessei pela bonita fissura frontal que fica na parte central da parede. Depois de conquistar as linhas mais obvias que passavam pelos diedros, resolvi esperar o primeiro final de semana de tempo seco para tentar a conquista.


Como o Alex (que também tava de olho na fissura) estava com o ombro machucado e ficaria uns 30 dias de molho, convoquei o Marcelo Garcia e partimos para Secretário

O início da via passa por uns trechos de aderências e abaulados, relativamente fácil, que foi protegido com grampos de 1/2" devidamente batidos a moda antiga, ou seja, com punho e marreta.


Acima está o Marcelo, abrindo o segundo lance e batendo mais um grampo.

Depois coube a mim inaugurar a fenda, que realmente é bem bacana e deu o grau da via, IV. Na foto acima eu já estou batendo um grampo numa barriga, com um mar de agarrões que acabou sendo mais um atrativo desta via, que provavelmente é a mais interessante deste novo point.

Esta não foi a menor peça que eu usei pra proteger na fissura. Usei várias dessas na primeira metade. No trecho final da fenda entram peças um pouco maiores e tambem entram friends pequenos. A fenda em si não é difícil, mas a colocação das proteções é delicada.

E ai está a árvore, que é o final de todas as vias. O lugar é visual. Dá para sentar, fazer um lanche, curtir a sombra. O rapel é da árvore mesmo, na linha da via Um Pássaro que Cai.
Vale lembrar que tem muitas pedras soltas na parte de cima das vias, e que todos devem usar capacetes, incluindo quem estiver de bobeira na base. Outra recomendação é levar pelo menos duas fitas bem grandes, para montar a parada na árvore, no final das vias.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pedra da Ferradura - Novo Point de Escalada em Móvel

A Pedra da Ferradura foi assim batizada por ficar logo acima da "Curva da Ferradura" no início da descida para Secretário, pelo asfalto vindo de Pedro do Rio, Petrópolis. O acesso é fácil, numa curta caminhada a partir da pista. A pedra é bem visível, mesmo de dentro do carro.
Na imagem acima estão as duas vias consquistadas hoje - 20/11/2008 - por mim e pelo Alex Che. Em vermelho a via que inaugurou o point, chamada Alexandre Motta - 2ºIII E2 100m - toda em móvel incluindo a primeira parada e o final (em uma grande árvore). Em azul está a linha direta para rapel, que futuramente será também uma via de subida. O primeiro rapel é do tronco da árvore e os seguintes são em dois grampos (é preciso uma corda de 60m). Em amarelo a segunda via aberta, chamada Fernando Funchal - 3ºIV E2 90m - também toda em móvel, mas com a primeira parada em grampo, pouco abaixo de um tetinho. O final também é na árvore.
Abaixo algumas fotos das respectivas conquistas:

Ai sou eu, iniciando a conquista da via Alexandre Motta. A primeira enfiada tem uma passada de II logo no início e depois uma fácil rampa. Na sequência um diedro com pega pela direita que dá um III. Na metade deste diedro fica a primeira parada, que é em móvel. Na sequência, conquistada pelo Alex, a via faz uma pequena travessia para a esquerda, pegando um segundo diedro (pega pela esquerda) também de III seguido de uma rampa com pedras soltas. No final uma laca e acima a grande árvore, que serve de parada.

Acima o Alex, no diedro da primeira enfiada da via Fernando Funchal, pouco abaixo do crux. A via inicia numa fácil rampa para a esquerda seguida de um lance de aderência. Na sequência um bonito diedro com pega pela direita que termina no crux da via, um IV. Depois de uma pequena travessia para a esquerda a via entra numa calha, onde fica o grampo da primeira parada.

Alex se preparando para bater o grampo, ao final da primeira enfiada da via Fernando Funchal.

Ai eu estou iniciando a conquista da segunda enfiada da via Fernando Funchal. A segunda enfiada começa numa delicada subida com pedras soltas, num lance que pode ser feito em chaminé, que dá um III. Depois pega uma bonita fissura frontal acima de um tetinho e segue meio em diedro, meio em aderência até iniciar uma travessia para a direita por um trecho de pedras soltas até a árvore do final da via Alexandre Motta.
Ainda conquistando a segunda enfiada da via Fernando Funchal, pegando a fissura acima do tetinho. O cuidado ai é para não deixar cair uma das muitas pedras soltas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Porque Subir Montanhas?



Uma montanha pode ser um desafio alimentado por anos a fio, ou um lazer despretensioso, o qual será relatado neste texto.

Olhe ao redor de sua casa, está vendo aquele velho morrote? Acorde mais cedo num domingo e caminhe até o topo. Mas não vá sozinho! Leve uma amiga, o namorado ou os filhos. Leve um chocolate quente para celebrar o nascer do sol. Isto é tudo o que basta para adquirir o vício. E subir montanhas não é um vício daqueles difíceis de largar. Quanto mais você sobe, mais quer subir. Quanto mais picos conhecemos, mais queremos visitar.

Subir para respirar

Na montanha respiramos mais e melhor. As caminhadas são exercícios aeróbicos, e quanto mais inclinado o terreno, melhor é o treino para o fôlego. O ar da montanha... Bom, o ar da montanha dispensa comentários.

Subir para curtir os amigos

A turma é divertida? Topa tudo? Vamos todos para a montanha! A diversão começa nos convites: saber quem vai, quem fica, etc. Depois, arrumar a tralha, encher cantil, limpar (!) as botas e escolher a barraca. Até que chega a hora da subida, cheia de surpresas. No topo, a satisfação de "chegar" e cumprimentar a lua. Dormir e ser acordado pelo sol, para então descer e começar a programar a próxima caminhada.

Subir sem tempo

"Como assim? Se eu não tenho tempo, como vou subir?" "Sem tempo para chegar, eu quis dizer". "Mas se não dá para chegar, para quê eu vou subir? "Numa subida, você é o dono do seu tempo e do seu ritmo. Caminhar é uma atividade cujo desempenho depende de quem a pratica. Existem aqueles que sobem correndo e existem aqueles que percebem cada flor do caminho. Esta é forma mais gostosa de subir montanhas: cada um no seu passo, da forma que dê mais prazer.

Subir para conversar

Na montanha conversa-se muito. Às vezes conversamos com o colega do lado, mas na maioria das vezes conversamos com nós mesmos. É quase inevitável. Praticamente tudo numa caminhada acontece por instinto. Não precisamos raciocinar para caminhar, para respirar ou para olhar ao redor. Isto libera a nossa mente para passar a vida a limpo. A montanha se transforma assim em companheira atenta e paciente, em psicóloga e em confidente.

Subir até parar

E quando é tempo de parar? Nunca. Existem vovôs e vovós que sobem montanhas de mãos dadas e crianças que deram seus primeiros passos nas encostas de alguma serra. Subir montanhas é um exercício sem restrições. Não devemos ter uma boa saúde para subir montanhas, mas sim, devemos subir montanhas para ter uma boa saúde.

"Enfim, devemos subir montanhas para ver o que há do outro lado e então querer ir mais longe. E lembre-se: uma montanha nunca é vencida, é conquistada! (você vence ou conquista uma amizade?)".

Texto de Flávio Nogueira de Melo Oliveira, retirado do site http://www.unicred-nne.com.br/informativos/artigos/058.html

domingo, 7 de setembro de 2008

Escalada e Meditação - Parte 2

Existem momentos em que bate uma grande insegurança durante uma escalada. Nessas horas parece que estamos pensando mais na distância da proteção abaixo do que no lance que temos que superar acima. Resistimos a abandonar algum apoio confiável e muitas vezes nos cansamos muito, perdendo uma energia que pode fazer falta depois.

Talvez o lance esteja realmente acima da nossa capacidade, mas não se pode avaliar isso dominado pelo medo, com mãos suando frio e o corpo tenso. O primeiro passo é reassumir o controle, ou como se diz nos grupos de Meditação, "voltar pro Centro".

Como nessas horas não dá para sentar e meditar por alguns minutos, a saída é fazer exercícios chamados "âncoras", que rapidamente trazem de volta o foco e eliminam parte da tensão corporal. Alias, vale lembrar que a escalada flui melhor com o corpo sem tensões, quando os movimentos saem naturalmente.

Abaixo algumas âncoras, que ajudam muito a estar no estado mental correto para escalar:


  • Acordou pilhado, com o estômago embrulhado pensando no crux da via. Escolha uma parte do corpo como âncora, de preferência uma mão ou um pé. Mantenha o foco nesta parte do corpo, tentando sentir (sem tocar). Isso funciona muito bem durante a caminhada de aproximação. A tendência é chegar na base da via mais sereno, com um bom estado mental para escalar.

  • Você já está na base da via, bastante tenso. Pare um pouquinho e use a mão como âncora. Tente sentir suas mãos (sem tocar). Quando conseguir sentir as mãos tente sentir individualmente cada um dos dedos. Se você conseguir é sinal de que já recuperou boa parte do foco. Hora de entrar na via, tranquilo.

  • Você já está na rocha e "pilhou" para passar num lance. Nessas horas a respiração fica curta e rápida, limitada pela própria tensão corporal. A dica aque é fazer a âncora na respiração, ou seja, respirando longamente e tentando imaginar a tensão corporal como uma energia ruim deixando o corpo.

  • Uma outra boa dica é aproveitar trechos fáceis da via para se preparar para os difíceis. Ao invez de passar nesses lances de forma displicente, passe com atenção, principalmente tentando fazer um perfeito trabalho de pés. Isso vai te deixar mentalmente mais focado para encarar as passadas mais duras.

E lembre-se; tente fazer isso sem tensão corporal, pois em grande parte é essa tensão que consome nossa energia e dificulta os movimentos.

Escalada e Meditação, parte 1: http://amagiadamontanha.blogspot.com.br/2008/09/escalada-e-meditao.html

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Escalada e Meditação - Parte 1

Muitos escaladores treinam forte para subir de nível. Via de regra esses treinos são focados na parte técnica e física. O resultado é uma obvia evolução na rocha, mas nem sempre conseguimos escalar, ou principalmente guiar, no nosso real limite. E essa diferença muitas vezes se deve a fatores psicológicos.

Quem não se lembra de ter desistido de mandar uma passada por medo de cair, ou de passar num lance fácil de forma atabalhoada, ou até ter bobeado num procedimento de segurança por falta de atenção?

Lembraças melhores são daqueles dias em que se supera um lance difícil ou exposto, com a mente tranquila, como se não houvesse a mínima possibilidade cair. Nesses momentos a mente está totalmente focada, sem nenhum pensamento perdido. Pura inteligência corporal. É comum nesses momentos um "estreitamento" da percepção para os limites dos apoios em uso e as passadas imediatamente a frente. 100% de atenção e 0% de dispersão.

Esse estado, que se alcança em alguns momentos e com mais facilidade em vias longas, é semelhante ao estado meditativo.

O estado meditativo é o estado onde se cessa a "metralhadora" de pensamentos dispersos da nossa mente. De forma resumida, meditar é não pensar. Pode ser em silêncio, imóvel em posição de lotus ao bom estilo budista, ou pode ser realizando alguma atividade estando totalmente focado, sem pensamentos dispersos.

Monges budistas buscam o estado meditativo em todos os momentos do dia, estando na posição de lotus ou caminhando ou até lavando vasilhas. 100% de atenção e 0% de dispersão.

Foi nesse estado mágico que o corredor Joaquim Cruz ganhou um ouro olímpico. Totalmente concentrado, correu e venceu, e simplesmente não se lembra de nada que tenha acontecido a sua volta.

Na olimpiada seguinte o mesmo Joaquim Cruz largou, se distraiu olhando a própria imagem no telão do estádio, perdeu o foco e perdeu a prova.

Então, a proposta aqui é que os escaladores desenvolvam a atenção 100% para evitar o que ocorreu com o Joaquim Cruz, que como a maioria de nós, entra e sai do estado meditativo de forma aleatória, nem sempre estando com atenção plena quando isso é necessário, ou seja, quando estamos guiando aquela passada sinistra longe da proteção. Ou quando temos que tirar aquela derradeira energia para mandar a última passada daquele boulder.

E o caminho é se juntar a um grupo de Meditação, tentando estender o aprendizado e a prática para alem dos limites da aula. E principalmente assumindo o comando do estado mental na hora de escalar. Vai fazer uma grande diferênça.
 

domingo, 31 de agosto de 2008

Travessia Caxambú - Santo Aleixo

Tem excursões que a gente leva uma vida inteira para fazer. Acredito que todo mundo que suba o Alto da Ventania, ou que faça a linda travessia Cobiçado – Ventania, já tenha ficado instigado com aquela larga trilha que desce seguindo as torres de alta tensão em direção a Santo Aleixo, distrito de Magé que fica num vale encravado na encosta sul da Serra dos Órgãos.

E comigo não foi diferente, pois já fiz dezenas de excursões para aquelas montanhas do Caxambú. E foi numa dessas excursões, para a Pedra do Inferno que resolvi que ia fazer, ainda em 2007, a Travessia Caxambú – Santo Aleixo. Nesse dia constatamos que a trilha do Alto da Ventania estava bem aberta, provavelmente devido a trabalhos de manutenção nas torres. Se toda a extensão da trilha estivesse no mesmo estado nossa Travessia seria muito tranqüila.

Marquei a excursão, que acabou sendo cancelada algumas vezes devido a mau tempo e outros imprevistos. Finalmente surgiu a data ideal, com previsão de bom tempo. Como confirmei em cima da hora só apareceu o Jair Amaral, que com seus 71 anos é atual montanhista mais ativo do CEP. Melhor companhia impossível! E nenhum de nós conhecia o caminho, o que dava um sabor especial à aventura.

A Partida

No dia da caminhada nos encontramos bem cedo, por volta as 6:00 horas em Petrópolis. Pegamos um ônibus para o Caxambú e iniciamos a subida do Alto da Ventania. O dia estava lindo, sem nuvens, um silêncio fantástico. Ficamos impressionados com os moradores do Caxambú, que por volta das 6:30 já davam duro nas plantações daquelas íngremes encostas.

Caminhando sem pressa chegamos no Alto da Ventania às 8:00 em ponto. Escolhemos um boa laje para descansar e fazer um lanche. Tentei visualizar parte da rota, que desce na linha das torres até uma espécie de garganta, à direita do imponente Pico Maior de Magé. Daí pra baixo não dava para ver mais nada.

Rumo ao Desconhecido...

Às 8:40 partimos, curtindo muito a sensação de estar indo “rumo ao desconhecido”. A trilha, que começa suave, logo desce forte num bonito trecho que alterna trechos abertos ao lado das torres e trechos na mata. Ficamos aliviados de constatar que o caminho estava bem aberto, confirmando nossas suspeitas com relação ao um recente trabalho de manutenção das torres. O altímetro ia marcando 1500m, 1450m, 1400m...

Ao final dessa primeira descida, entramos num lindo trecho de mata, onde cruzamos um riacho. Mesmo estando na borda da serra, este largo riacho faz uma improvável curva e volta para Petrópolis, sendo um dos afluentes do Rio Itamarati. Acredito que tenha sido exatamente neste local que cinco caminhantes perdidas tenham descido o riacho pelas pedras, sem perceber a trilha nas margens. Elas caminharam por dois dias até chegar na barragem do Caxambú, onde foram resgatadas com fome e muito machucadas.

Deixamos para trás o riacho e entramos num trecho plano, ainda na mata. Logo saímos para um trecho aberto onde voltamos a acompanhar as torres. Estávamos chegando na garganta, limite do que era possível ver do Alto da Ventania.


Quase na garganta a trilha começa a subir para a borda direita, no que talvez seja o trecho mais bonito da caminhada. Exatamente na garganta um conjunto de três torres, e a sensação de estar chegando na beirada de uma mesa. Quando chegamos nessa beirada ficamos impressionados com o que ainda faltava andar. Um profundo vale surgiu abaixo, e a encosta era tão íngreme foi difícil imaginar por onde desceríamos.

Desde os 1570m de altitude do Alto da Ventania já tínhamos descido um desnível de 300m. Faltava descer um desnível de 1200m até o distante vale principal de Santo Aleixo.

A Trilha Suspensa

Iniciamos a descida curiosos, até descobrir que o caminho entra na mata á esquerda e desce num ziguezague incrivelmente bem feito e praticamente suspenso. Estávamos numa parede quase vertical e ao mesmo tempo caminhando numa larga trilha. O altímetro ia marcando 1200m, 1150m, 1100m...

Os Taquaruçús

Vencida a encosta mais íngreme, continuamos a descer pela mata cortando fios d’água, num ziguezague menos pronunciado. E logo chegamos no trecho dos taquaruçús, que tem a fama de ser a “roubada” dessa trilha. Os taquaruçús vão arriando sobre a trilha formando um difícil obstáculo, praticamente impossível de abrir com facão. A saída é passar se arrastando, por um trecho que dura mais de uma hora. Como era nosso dia de sorte, encontramos tudo aberto. Estimamos que o trabalho foi feito usando uma moto-serra. Vencemos os taquaruçús sem tirar o facão da mochila.

Respiramos aliviados quando chegamos num trecho quase plano, saindo da mata e seguindo ao lado das torres. Já tínhamos vencido um desnível de mais de 1000 metros desde o Alto da Ventania. Mas o vale de Santo Aleixo ainda parecia bem distante.

Floresta das Águas

Quando pensamos que caminharíamos a céu aberto, a trilha fez uma guinada e entrou na mata novamente, numa larga e bonita trilha. Seguimos cruzando riachos e fios d’água bastante caudalosos, mesmo no final da estação seca. No altímetro a altitude ia baixando devagarinho, 400m, 350m, 300m... até que chegamos numa larga trilha com os primeiros sinais de civilização. Passamos por uma casinhas simples e entramos novamente num trecho deserto, de mata.

Depois de caminhar mais um pouco surgiu um trecho de trilha lindo, com campos de flores dos dois lados da trilha. Paramos e fizemos um lanche reforçado, pois já era perto de meio dia.

Mais abaixo a trilha vira um a estradinha, ao lado de um bonita casinha e pau-a-pique, onde fomos recebidos por um estranho sujeito com uma faca na mão. O cara na verdade era um morador local e estava indo matar um porco. Depois de conversar com ele seguimos descendo, tendo como trilha sonora os gritos do porco, que aparentemente teimava em não virar toucinho.



É um bar !!!!!!

250m, 200m, 150m.... e a gente ia descendo, com os joelhos já um pouco cansados. E de repente surge à frente uma construção que parecia um bar. Enquanto eu estava marcando um ponto no GPS o Jair disparou... mas logo abriu um sorriso engraçado. O lugar era na verdade um clube de militares, com parquinho, campo de futebol, etc. Tudo arrumadinho... e fechado. Um senhor muito simpático nos indicou o caminho e disse que faltava uns 40 minutos de caminhada.

Percorremos o trecho final até a rua principal de Santo Aleixo. Descobrimos onde era o ponto de ônibus... mas primeiro tinha que rolar uma cervejinha. Mas que lugar era esse que não tinha botequim em ponto de ônibus? Acabamos andando um bocado para achar um bar, onde jogamos as mochilas no chão e fomos tomar uma merecida gelada, comemorando o final dessa linda caminhada. No GPS estava registrada a extensão da trilha: 14km percorridos em 6 horas. Ficamos imaginando como seria fazer a trilha em sentido inverso, vencendo os 1500m de desnível vertical até o Alto da Ventania.

Essa fica pra próxima...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dando Segurança com o Freio ATC

Os freios tipo “tubo”, mais conhecidos com ATC, praticamente substituíram os tradicionais freios “oito” na escalada tradicional. Mas ainda é comum ver escaladores usando esses práticos freios de forma equivocada, comprometendo a segurança.

Lembrando de um passado relativamente recente (até meados dos anos 90) os baudriers não tinham loop, e o fechamento era com a própria laçada da corda, que ficava na horizontal. Com isso o freio oito ficava também na horizontal e isso definia a posição das mãos ao dar segurança.

A partir do advento dos loops no baudrier e dos freios ATC, o posicionamento correto das mãos mudou, para uma forma até mais natural e eficaz. A mão que puxa e libera corda para o guia (guide hand) fica acima, e a mão que atua como freio em caso de queda (belay hand), fica abaixo verticalmente com o polegar para cima, o que é bem natural, pois a corda vem mesmo de baixo e o guia vai mesmo para cima.

O que é de vital importância é a atuação da belay hand, pois esta não pode sob hipótese alguma soltar a corda. Para isso, além de montar corretamente o freio, é preciso movimentar as mãos corretamente, conforme as imagens abaixo:

Posição inicial


Liberando corda para o guia progredir




Retornando a belay hand para a posição inicial, deslizando a mão fechada, sem soltar a corda. A guide hand pode até soltar a corda ao retornar à posição inicial.


Outra situação típica de erro é na segurança dada pelo guia ao participante. Nos tempos do “oito” era comum colocar o freio na própria parada. Com o “oito” funcionava relativamente bem, pois mesmo nesta posição ainda havia alguma torção da corda, gerando atrito de frenagem. Já com o ATC essa torção praticamente não existe, comprometendo a frenagem. O correto, ao usar um ATC, é passar a corda do participante numa costura na parada e usar o freio no baudrier.

Ao dar segurança, tanto para o guia quanto para o participante, é muito importante se manter atento, percebendo o avanço de quem está escalando, evitando retesar ou dar folga demais na corda.

Regras de Ouro do Montanhismo

  • Aceitem os riscos e assumam as responsabilidades

  • Equilibrem seus objetivos com suas habilidades e equipamentos

  • Joguem por meios razoáveis e relatem honestamente

  • Esforcem-se pela melhor prática e nunca parem de aprender

  • Sejam tolerantes, respeitem e ajudem uns aos outros

  • Protejam o carater selvagem e natural das montanhas e paredes

  • Apoiem as comunidades locais e seu desenvolvimento sustentável


Texto extraido da Declaração do Tirol, sobre a melhor prática em esportes de montanha, promulgada pela Conferência sobre o Futuro dos Esportes de Montanha em Innsbruck, em 8 de setembro de 2002.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Mito do Pico Maior de Friburgo



No distante ano de 1984 eu, aos 14 anos de idade e por intermédio de um vizinho bem amalucado, entrava para o CEP. Hoje penso que poucos fatos da minha vida tiveram conseqüências tão marcantes e duradouras. O vizinho em questão era o Fernando Funchal, um dos mais ativos guias da época. O presidente do CEP era o Tonico, grande escalador que, com suas conquistas, levava o nome do CEP para além das fronteiras petropolitanas.

Na época, a grande aventura dos montanhistas petropolitanos era acampar no Morro Açu, nos abrigos, pois barraca era um luxo muito distante da realidade da maioria de nós. Lanternas de carbureto, mochilas e sacos de dormir feitos pelo William “Zaraba”, e mais uma relação de equipamentos que a garotada de hoje nem imagina. Acampar no Açu era um barato. E uma grande ralação.

E foi lá, curtindo dias lindos e frios em frente ao Abrigo 1, que eu vi pela primeira vez aquela distante formação de montanhas que ficava onde o sol nascia. Os Três Picos. Nesta mesma época o André Ilha e a Lúcia Duarte lançavam o Catálogo de Escaladas do Rio de Janeiro. Folheando o Catálogo comecei a conhecer mais detalhes de um lugar quase mitológico chamado Salinas.

Poucos anos mais tarde, já com carteira de motorista e uma Brasília que tinha uma cor meio vinho meio roxa, tentei chegar mais perto daquelas lindas montanhas que eu via do Açu. Nas freqüentes idas a Nova Friburgo fui fazendo incursões no Vale dos Frades e em Salinas, mas as péssimas estradas da época nunca me permitiram chegar tão perto.

E os relatos das subidas ou tentativas de ascensão ao Pico Maior povoavam o imaginário dos montanhistas. Chaminés sem proteção, horizontais horripilantes, escaladores exaustos obrigados a passar a noite na pedra e outras roubadas faziam parte dos relatos de quem voltava de lá.

E vieram os anos 90. Gerações de ótimos escaladores surgiram em paralelo a uma incrível evolução dos equipamentos. Os mitos foram sendo derrubados um a um, sem piedade. Escaladores cada vez mais habilidosos e com equipamentos cada vez mais leves marcaram o fim do período romântico do montanhismo. Os “bichos-papões” da época, como Agulha do Diabo, Verruga e Garrafão viraram excursão de um dia na programação dos clubes. Em Salinas o Pico Maior passa a ter uma série de outras vias, tornando a mitológica Face Leste apenas mais uma via, ainda a mais freqüentada, mas a mais fácil. O título de maior via de escalada do Brasil, que foi da Leste com seus 750m por muitos anos, vai para novas conquistas. Algumas com mais de 1000 metros de extensão.

Mas mesmo com toda a evolução e as facilidades para se chegar a Salinas, um grande número de incidentes e até acidentes continuou marcando as ascensões ao Pico Maior, mostrando que a montanha ainda tem um preço a cobrar dos escaladores despreparados.

Já no final dos anos 90 resolvi escalar com mais freqüência com a intenção de um dia escalar a Leste e pisar no cume da mais alta montanha da Região Serrana Fluminense. Curiosamente, em vários momentos e por diversos motivos acabei não indo. Subir o Pico Maior começou a virar um grande objetivo, algo perto de uma obsessão. Em 2005 tive meu primeiro contato com a rocha, numa investida onde tivemos que abortar a subida após 9 enfiadas, por conta de um joelho inflamado do meu parceiro Alexandre Motta. Era um dia lindo e a escalada fluía num ótimo ritmo. Mas tivemos que voltar. Deste fracasso uma lição para a próxima tentativa: Escalar mais leve !

Ainda em 2005 uma nova tentativa, abortada de madrugada por conta de uma chuvinha fina que molhou tudo. Nesse dia acabamos novamente, eu e o Motta, entrando mais tarde na também tradicional via CERJ no Capacete. Revezamos as guiadas desta linda via de 450m, que acabou sendo minha primeira via completa em Salinas. Logo depois entrou a estação das chuvas, adiando meu projeto de subir o Pico Maior para a temporada 2006.

Em abril de 2006 voltamos para Salinas. No nosso primeiro dia lá o mau tempo só permitiu caminhadas. À noite eu o Motta decidimos que partiríamos para o Pico no dia seguinte. Arrumamos tudo em mochilas leves com a intenção de fazer uma ascensão rápida e dormimos cedo, confiando da previsão de melhora do tempo. Tinha combinado com o Motta que tentaria guiar as 17 enfiadas da Via Leste. A escalada do Pico Maior era uma questão pessoal.

Madrugamos a ponto de estar na base com os primeiros raios de sol. Entramos na via às 6:30 com a montanha envolta em névoa. O tempo não havia melhorado. Logo após a primeira enfiada começaram os problemas, pois fomos descobrindo que vários trechos estavam molhados. Decidimos não escalar a francesa e fomos vencendo com cuidado lance a lance. Quando vimos as condições da quarta enfiada a coisa ficou feia e o Motta mencionou voltar. Arrisquei guiar um lance horizontal molhado, com duas passadas em aderência. Realmente não queria desistir. O Motta também conseguiu passar no lance e ai o astral melhorou por conta de algumas enfiadas secas.

Mas na oitava enfiada, pouco antes do trecho de mato que antecede a primeira chaminé, encontramos uma situação aparentemente intransponível, com um extenso lance, totalmente molhado. Discutimos novamente a possibilidade de voltar, mas resolvi tentar entrar no lance. Pedi muita atenção ao Motta e fui subindo um veio de cristais molhados. Quando vi que seria impossível continuar resolvi arriscar de vez e subir a esquerda da via, longe dos grampos. Se o grampo da parada seguinte estivesse num trecho molhado eu teria que desescalar um longo trecho, mas depois de esticar uns 30 metros da última proteção acabei chegando na parada, sequinha.... Que alívio! Pela primeira vez neste dia tive certeza de que nada iria nos impedir de chegar ao cume. Rapidamente fomos até a base da primeira chaminé, onde descansamos e fizemos um lanche. A partir deste momento comecei a escalar conversando no rádio com minha namorada Gisele, que nos via com luneta de uma pedra no caminho para o Vale dos Deuses.

Tirei a mochila e entrei na primeira chaminé de tantas histórias. Com vários platôs intermediários a chaminé acabou sendo tranqüila. O lance seguinte, a famosa descidinha em diagonal acabou se mostrando fácil, com agarrões. Parei em P10 e fiquei conversando com a Gisele enquanto dava segurança ao Motta. Na horizontal a Gisele se espantou ao ver o Motta com os braços abertos se equilibrando no lance, que é bem exposto para o participante.

A enfiada seguinte me pareceu ser a enfiada-chave da Leste. Depois de 10 enfiadas, já um pouco cansado, me concentrei e entrei guiando uma seqüência que varia entre 4º e 5º com subidas, horizontais, lacas, rampas, cristais. Tomei um “perdido” após uma laca e acabei pulando um grampo. Mais acima outro “perdido” que me obrigou a desescalar um lance. Finalmente cheguei em P11, e ao me virar para avisar ao Motta que estava ancorado me surpreendi com a verticalidade da enfiada. A Gisele passou um rádio dizendo que voltaria ao abrigo, pois estava congelando.

De P11 em diante a inclinação cede um pouquinho e a via passa por lances lindos com agarrões e fendas até a entrada da segunda chaminé. Comemos mais alguma coisa e eu me preparei para entrar guiando, já bastante cansado. A segunda chaminé é bem pior que a primeira, pois é mais extensa e não tem nenhum ressalto para descanso. Ao final um grampo e um lance de domínio, onde eu tomei mais um “perdido” saindo da rota e escalando um veio de cristais no fundo da chaminé. Consegui voltar para a rota numa passada bem aérea e adrenante e finalmente cheguei em P14.

Entrei guiando a enfiada seguinte, que começa num lance esquisito, meio chaminé, meio aderência, meio fenda, e segue pelo primeiro artificial com uma salada de grampinhos e chapeletas bem esquisitos. Finalmente cheguei a tão esperada P15, um amplo platô já bem pertinho do cume. Colocamos os anoraques e eu parti guiando uma enfiada curtinha com um artificial no meio. Cheguei a entrar no artificial guiando em livre, mas no final me rendi ao cansaço e fiz em artificial mesmo. Logo cheguei em P16 e fui seguido pelo Motta, que estava exausto. Daí para cima fomos meio que à francesa e nem paramos em P17. Ás 14:00 chegamos na vertente norte do cume, onde tiramos as mochilas e nos cumprimentamos.

Enquanto o Motta enrolava a corda eu fui rapidamente até o conjunto de blocos que marca o ponto mais alto e fiquei ali sozinho. O cume estava envolto em névoa, sem vento. Um silêncio absoluto. Tudo o que eu já passei nos meus 22 anos de montanha passou como um filme acelerado. Eu estava finalmente lá, no cume daquela montanha mágica que esteve tão presente nesses anos todos. Não importava se a montanha já não era esse mito todo. Nem que a escalada nem tinha sido tão difícil assim. Senti que tinha encerrado um ciclo e curiosamente senti um estranho vazio. Era gostoso escalar e treinar pensando em um dia subir o Pico Maior. Mas e agora... ...agora o Motta chega e me alerta da necessidade de descer. Tiramos algumas fotos e assinamos o livro de cume. Fizemos um lanche reforçado e iniciamos a descida pela via Sílvio Mendes. Já eram 15:00 horas, um pouco tarde.

Em contraponto à magia silenciosa do cume, a descida pela Sílvio Mendes foi uma bela ralação. Trecho molhados, cordas embolando e agarrando. Cerca de 8 rapeis mais tarde, a noite chegou. Mais dois rapeis iluminados pelas nossas head lamps e estávamos finalmente arrumando nosso material de escalada na mochila, no colo entre o Pico Maior e o Capacete. Caminhamos de lá até o carro, aonde chegamos 14 horas depois da partida.

Nos outros 3 dias que ficamos em Salinas nem escalei mais. Passei curtindo o lugar e principalmente tentando entender tudo que passou pela minha cabeça no cume do Pico Maior. Não cheguei a grandes conclusões, mas passei a olhar para o Pico Maior com um velho amigo. Existe um provérbio que diz: “Não se vencem as montanhas como se vence um inimigo. Se conquistam as montanhas como se conquista um amigo”.

Volta da Ilha Grande

Conhecer a Ilha Grande era um sonho antigo. Curiosamente, com mais de 20 anos de excursões pelo CEP, contando com muitas viagens e travessias, nunca havia pisado na Ilha Grande, que está tão pertinho...


Então, quando comecei a planejar minhas férias junto com a Gisele neste verão de 2006, surgiu a idéia de dar a volta na Ilha. Pesquisamos sites, conversamos com quem já esteve lá e montamos um roteiro básico. Nas mochilas, além de toda a parafernália obvia para quem vai passar dez dias acampando, os indispensáveis filtro solar, repelente, hipoglós, além de mapas e uma providencial tábua de marés, item facilmente encontrável em sites de metereologia. No quesito alimentação, sabendo que a trip seria longa, resolvemos incrementar um pouquinho, levando mais do que os tradicionais macarrões instantâneos.

1º Dia: Passeando no Abraão

Com as mochilas montadas partimos de Petrópolis e chegamos no cais de Angra, onde estacionamos o carro e negociamos uma embarcação para Abraão. Ao chegar na “capital” da Ilha Grande, nos acomodamos num camping e saímos para uma caminhadinha pelas trilhas próximas. Conhecemos as ruínas do sombrio Lazareto e o impressionante Aqueduto, onde começa a trilha que pegaríamos com mochilão dois dias depois. Na volta encontrei numa lojinha de artesanatos, uma edição do providencial Guia de Trilhas da Ilha Grande, que nos foi muito útil no planejamento final da aventura.

2º Dia: Pico do Papagaio

Montei uma mochila de ataque e assim partimos para o Pico do Papagaio, cartão postal da Ilha com 982 metros de altitude. Subimos caminhando pela estradinha que liga Abraão a Dois Rios e pegamos a trilha ao lado de uma placa de sinalização. A subida é bem constante e forte, praticamente toda na sombra. Nessa trilha tivemos nosso primeiro contato com os macacos bugíos, que rugiam assustadoramente ao longe. O final da trilha é muito bonito, margeando uma grande rocha branca e alcançando o cume por uma crista. O visual é lindo e vale o esforço. Na volta fomos para a praia comemorar nosso “aquecimento” para a jornada que começaria no dia seguinte.

3º Dia: Abraão – Bananal

Desmontamos acampamento, tomamos um café reforçado e finalmente botamos as mochilas nas costas. Como era o primeiro dia de nossa jornada ao redor da Ilha, as mochilas estavam com um peso insano.

A decisão era fazer a volta no sentido anti-horário, começando pelo lado voltado para o continente. Fomos então caminhando pela agradável trilha que sai de Abraão à esquerda do píer, passamos pelo Lazareto e pegamos a leve subida até o Aqueduto, onde tiramos umas fotos e partimos trilha acima. A primeira subida já era bem forte, como um prenuncio do que seria a tônica de toda a travessia. Chegamos ao topo suando em bicas e a Gisele já parecia tão arrependida... Mas iniciamos a descida e logo chegamos na praia da Camiranga, onde finalmente tiramos as mochilas das costas e fizemos um rápido lanche. Mochilão nas costas de novo, partimos caminhando alternando areia e trilha, pelas praias que compõem a Enseada das Estrelas: Praia do Perequê, de Fora, Manguesal, Praia do Galo, do Conrado e finalmente encontramos uma padaria no Saco do Céu. Era meio dia, sol de rachar. Tiramos as mochilas e nos esticamos nuns banquinhos de madeira. A Gisele chegou a dormir. Aproveitamos para comer deliciosos pães doces e nos preparamos para seguir em frente.

A retomada foi uma forte subida. Muito suadouro depois, iniciamos a descida que termina na praia do Funil, a menor da Ilha. Mais um pouquinho e chegamos na pequena Japariz, com bares lotados de turistas que chegam em imensas escunas. Seguimos por uma larga trilha e finalmente chegamos na bonita igreja de Freguesia de Santana, que já foi o povoado mais importante da Ilha. Aproveitei para dar um mergulho e logo partimos para o último trecho do dia, até a enseada de Bananal. Segundo informações, seria possível acampar na praia de Bananal Pequeno.

Pegamos mais uma forte subida, com calor e sem vento. E ai a Gisele “colou a placa”, sendo necessário fazer uma parada para tomar um gel de carboidrato. Chegamos no Bananal Pequeno muito cansados, e para nossa surpresa não era mais permitido acampar. Por sorte um pescador foi solidário e nos permitiu acampar na varanda de uma casa, o que acabou sendo muito bacana, pois o lugar era muito bonito. Fizemos uma janta reforçada e finalmente começamos a reduzir o peso das mochilas.

4º dia: Bananal – Praia da Longa

Pelo mapa seria um dia menos cansativo, com uma distância total menor e menos subidas. As mochilas ainda estavam muito pesadas, mas a ótima noite no Bananal ajudou a levantar o astral. Assim seguimos caminhando por praias intercaladas por trilhas: Bananal, com pousadas e bares; Matariz, com um camping, comércio e uma fábrica abandonada; Passaterra, com pousadas sofisticadas que não aceitam mochileiros; Maguariqueçaba, com golfinhos dando um show nadando ao lado do píer; Sítio Forte, um cartão postal com um belo gramado salpicado de coqueiros. No trecho de mata entre Matariz e Passaterra existe uma das figueiras gigantes da Ilha, com as raízes quase que engolindo um imenso bloco de pedra. Ao chegar na simpática praia da Tapera, por volta de meio dia, decidimos descansar num bar que estava fechado. A Gisele viu uma rede esticada e “capotou”. Eu fui dar um mergulho. Depois de um bom descanso, partimos para a Praia de Ubatubinha, onde encontramos um bar movimentado cheio de turistas italianos. Preparei um isotônico e comemos pasteis fritos na hora. Tudo isso para encarar a subida mais forte do dia e chegar na Praia da Longa, onde existe um camping simples no final da praia.

Barraca montada; demos um mergulho e comemos um delicioso prato feito. Só faltava descansar para encarar o dia seguinte, considerado o mais puxado.

5º dia: Praia da Longa – Aventureiro

Acordamos cedo, desmontamos acampamento, tomamos um café da manhã com vista para o mar e partimos. As mochilas continuavam terríveis, mas a perspectiva de chegar na Praia de Aventureiro criava um novo sentido para a ralação. Saímos da Praia da Longa por uma forte subida e logo chegamos na extensa e bonita Praia Grande de Araçatiba. Ao final da praia encontramos um armazém onde repusemos nossos estoques de água potável, artigo difícil no lado continental da Ilha. Partimos novamente e logo chegamos nas areias de Araçatibinha, onde começa a forte subida rumo a Proveta. Pegamos o subidão e logo chegamos ao topo da trilha, bastante cansados. Partimos morro abaixo rumo a Provetá, um dos maiores povoados da Ilha onde existe um impressionante templo da Igreja Universal. Como Provetá não tem maiores atrativos, a idéia era almoçar, descansar e partir para o maior subidão da Volta da Ilha Grande, que leva à paradisíaca Praia do Aventureiro.

Conseguimos encontrar uma super refeição em Provetá. Como sol estava muito forte, descansamos bastante na sombra de uma amendoeira e só à tardinha pegamos a trilha para aventureiro. A subida começa forte, sem sombra... e continua forte, sem sombra... Subimos lentamente, com algumas paradas para descanso. O terço final da subida a Gisele fez com a língua arrastando no chão. No final ela não conseguia nem me xingar de tão cansada. Mas a linda visão do oceano, com as praias do Sul e do Leste, separadas pelo curioso Ilhote à nossa frente - uma paisagem que sonhávamos encontrar - valeu o esforço. Reunimos as últimas energias para descer até a Praia do Aventureiro, onde chegamos após o por do sol. Montamos nosso acampamento e fomos tomar uma gelada, ouvir hippies tocando violão, etc.

6º dia: Descansando em Aventureiro

Tiramos o dia para descansar. Caminhamos para a Ponta do Aventureiro, onde existe o famoso coqueiro inclinado. Tomamos banho de mar na deliciosa Praia do Demo e fomos dar uma olhada no tão falado Costão do Demo, com suas línguas de água escorregadias. Vimos que com tempo bom não teríamos problemas para passar ali. Também nos informamos com os locais sobre a proibição de passar pelas praias da Reserva Biológica. Nos disseram que “podia passar, mas não acampar”. Tudo pronto para a próxima jornada! Fomos preparar um belo almoço – risoto de cenoura e passas, acompanhado de purê de batatas com sardinha – show de bola e menos peso nas costas. Fizemos também um balanço de tudo que tínhamos e reduzimos mais ainda o peso. O repelente, filtro solar, shampu, etc. já estavam pela metade o que também contava a nosso favor.

7º dia: Aventureiro – Parnaioca

Acordamos e tomamos café assistindo o sol nascer no mar. Desmontamos acampamento e decidimos partir descalços. A maré baixa seria às 9:00, ótimo horário para estar passando pelo mangue que contorna o Ilhote. Seguimos caminhando pela Praia do Aventureiro, Demo e atravessamos o Costão do Demo, que já não parecia tão amistoso de cargueira nas costas. Mas tudo correu bem e finalmente estávamos caminhando descalços nas areias finas da imensa praia do Sul. Ao final da praia achamos uma sombra para descasar e fazer um lanche. Seguimos para o tão falado mangue, e devido à maré baixa, estava seco. Moleza ! A travessia do riacho foi com água na altura dos joelhos e logo estávamos caminhando na isolada Praia do Leste.

Ao final da praia, mais um lanche. Calçamos as botas e partimos trilha acima pela mata, até chegar na Praia da Parnaioca, completando nosso mais curto dia de caminhada. Montamos acampamento, almoçamos um ótimo prato feito e curtimos o lugar, que é muito especial. Depois de muitos dias voltamos a ouvir os rugidos dos macacos bugíos. Agora bem mais próximos. Uma grande surpresa nos aguardava...

8º dia: Parnaioca – Santo Antônio

Tomamos café e partimos de Parnaioca em direção à Praia de Dois Rios, entrando no maior trecho contínuo de trilha na mata. As mochilas já estavam bem suportáveis, e a sombra da floresta garantia um ótimo início de jornada. Começamos a ouvir os assustadores rugidos dos bugíos, mais próximos do que nunca. Sabíamos que eram inofensivos, mas mesmo assim, estar na mata ouvindo aqueles sons era impressionante. Só quem já esteve numa situação dessas faz idéia. Quando chegamos num trecho da trilha onde os bugios pareciam estar a poucos metros de nós, num movimento muito rápido eles passaram sobre a trilha por cima das árvores e foi possível vê-los de perto, com pescoço peludo lembrando um leão. Bem menores do que o bizarro rugido sugeria, eles desapareceram por uns instantes na mata. Caminhamos mais um pouco e o momento mágico aconteceu. Fomos cercados por bugíos dos dois lados da trilha, que rugiam sem parar. Ficamos petrificados, com um misto de medo e alegria. Foi surreal. Retomamos a caminhada e aparentemente nos afastamos daquela família de bugíos que nos proporcionou o momento mais emocionante da nossa aventura.

O contraponto do incrível encontro com os bugios foi a chegada em Dois Rios. Os vestígios do presídio, a sombria vila militar que parou no tempo. Como estávamos cansados fizemos uma parada para um lanche reforçado, mas logo pegamos a trilha para Caxadaço. Foi muito bom deixar aquele baixo astral para trás e melhor ainda foi chegar na pequena e linda enseada do Caxadaço. Enquanto a Gisele descansava dei uma explorada numa área de boulders, com muitas fendas. Como ainda era cedo, resolvemos mudar nosso plano original de acampar no Caxadaço e partir para a Praia de Santo Antônio, vencendo o trecho mais complicado quanto ao quesito orientação.

Entramos na mata muito atentos à trilha insipiente, que em alguns momentos parece sumir. Ouvimos alguns bugíos distantes, o som do mar sempre próximo. Fomos descobrindo o caminho e logo chegamos na larga trilha da Praia de Santo Antônio. Vitória !! A Volta da Ilha Grande estava no papo. Deste momento em diante só trilhas largas e sinalizadas. Mas mesmo assim teríamos nossa última noite longe dos agitos do lado continental da Ilha. Acampamos nas areias da romântica Santo Antônio. Tomamos banho de caneca numa fonte nos rochedos ao lado da praia, jantamos nosso último Miojo com atum e molho de tomate. Vimos a lua cheia nascer. Um sentimento de vitória pela dura travessia, misturado com uma saudade que já começava a bater tomava conta da gente.

9º dia: Santo Antônio – Abraão

Acordamos tarde pela primeira vez na Ilha Grande. Tomamos um café numa pedra de frente para o mar, arrumamos as coisas com calma e partimos para nossa última jornada. Mochilas mais leves do que nunca, mais um dia lindo de sol na Ilha, tudo era legal.

Ainda bem cedo fizemos uma escala na Praia de Lopes Mendes e depois seguimos para a praia de Pouso, depois Mangues e finalmente Palmas, onde lanchamos no barzinho de um camping, onde dois hippies tocavam violão e cantavam. Astral melhor impossível. Partimos para a arrancada final, que para coroar essa grande travessia, é uma baita subida! Subimos, subimos, e finalmente chegamos no topo. Dava para ver a enseada de Abraão. Era só descer e tomar a cervejinha mais merecida.

Descemos curtindo, sem pressa. Chegamos em Abraão e comemoramos. No caminho do camping decidimos ficar numa pousada, com cama, banheiro, ar condicionado, frigobar, piscina, etc. A Gisele tinha se superado e merecia um conforto na última noite na Ilha Grande. Depois de um belo banho fomos para o tradicional Bar Casarão comer peixe e tomar muito chopp gelado. Chapamos!!!

10º dia: Volta para Casa

Tomamos café na pousada e fomos para o píer. Voltamos para o continente de barca e pegamos o carro. Como era uma segunda feira voltamos pela Rio – Santos sem trânsito e logo estávamos em casa, desfazendo as malas e loucos para revelar as fotos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Os 10 Mandamentos do Caminhante

  1. Nunca medir a distância
  2. Nunca medir a altura
  3. Nunca medir o tempo
  4. Ser dos caminhos, mas não lhes pertencer
  5. Conversar com o silêncio
  6. Encarar o sol e a chuva como companheiros
  7. Não caminhar como se fosse uma obrigação
  8. Não encarar as trilhas como um desafio
  9. Respirar fundo e pisar leve
  10. Repartir com todos o pão, até com o cão

(texto encontrado num camping, no Vale do Pati - Chapada Diamantina)

Aproveitar a Vida

(eu caminhando no Três Picos - foto de Flávio Varricchio)

Entre a temeridade e a renúncia passa o estreito e incerto caminho sobre a aresta da aventura. E aquele que, ao menos uma vez, lutou para se manter na corrente duma verdadeira viagem, esse sabe que por esse caminho poderá sempre apreender a medida das suas forças e conhecer o exato valor da vida vivida. Dum lado, apresenta-se-nos a parte radical raiando a inconsciência, do outro lado estende-se a versão fácil de todas as inquietudes, na base da qual as vias suaves apelam a viver simulacros. Sobre este elevado sentimento, é necessário questionar a vertigem e as suas dúvidas. Mas aqui vivemos de boa lucidez e de simples coragem. Se a margem de manobra é por vezes restrita, a vista magnífica que temos sobre o mundo faz do aventureiro aquilo que o navegador Gerard Janichon chama de “um viajante universal da vida”. E sobretudo, à custa de esforços, habituamo-nos a correr o risco por aquilo que ele vale: o indispensável, a parte necessária à verdadeira viagem, aquela que é necessária no mesmo instante procurar e evitar.

O risco tem duas faces. É aliás o perigo, por vezes mortalmente redutor da vida, insuportável eventualidade do azar, mas também o desconhecido, o “belo risco”, que, pela descoberta e a invenção, conduz quase sempre a uma valorização da vida. Essas duas faces são inseparáveis, e não podemos contemplar um sem encontrar o outro: Privada de riscos, a aventura nada oferece. Mas arriscada demais, ela torna-se absurda.

Tem-se dito do alpinismo que é a arte de procurar os maiores perigos fazendo tudo para os evitar. Assim sendo de todas viagens perigosas, aquilo que faz a sua essência, não são os riscos em si mesmos, mas a arte de os evitar. Evita-los em si, e não por outros que antecipadamente os desviaram do caminho.

No regresso de uma primeira ascensão no Alasca, no seguimento da qual acabara de perder um amigo, David Roberts escrevia num livro justamente intitulado “Momentos de Dúvida”: “Este choque e este medo que os últimos dias da nossa expedição nos habituaram mascaram hoje a imagem radiosa duma marcha perfeita – a macha do cume – onde a harmonia parecia sem defeito. Poderíamos nós ter encontrado um modo menos arriscado de nos tornarmos amigos? Teria sido possível? Talvez tenha sido o risco, ele mesmo, que contribuiu para nos unir...” Para encontrar a resposta a estas questões, podemos escutar o alpinista e guia de montanha Paul Keller: “Querer banir todo o risco da existência individual e coletiva, é condenar ao imobilismo. Reivindicando um direito ao risco, os alpinistas não defendem somente o alpinismo, mas uma qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade, onde o prazer e o esforço se misturam à necessidade de empreender e à recusa do status quo.”

Entre as agruras do perigo e a paralisia suscitada por vezes pelo medo, passa o estreito caminho da aresta da viagem perigosa, ao longo da qual o caminhante livre e responsável de si mesmo, vai procurar as maravilhas que ele necessita para viver e que ele vai trazer aos outros. Lá em cima, sobre estas arestas do risco, na vertigem da imensidão do mundo, ele tem certos direitos, não à segurança, mas aos meios da sua própria segurança. Que seria da sua viagem se ele não saísse fora dos carreiros balizados?

O direito à vida segura não é nada sem o outro bem, o direito à aventura.

Entre as griseries do perigo e a paralisia suscitada por vezes pelo medo, passa o estreito caminho da aresta da viagem perigosa, ao longo da qual o caminhante livre e responsável de si mesmo vai procurar as maravilhas que ele necessita para viver e que ele vai trazer aos outros. Lá em cima, sobre as arestas do risco, na vertigem da imensidão do mundo, ele tem certos direitos, não à segurança, mas aos meios de sua própria segurança. Que seria da sua viagem se ele não saísse fora dos carreiros balizados? O direito à vida segura não é nada sem o outro bem, o direito à aventura. À l’aventure.

(desconheço o autor)

GRIGRI versus SUM

Lançado recentemente, o SUM, dispositivo de frenagem auto-blocante do fabricante espanhol Faders, veio finalmente perturbar o tranqüilo reinado do GRIGRI, da francesa Petzl. Este artigo visa fornecer algumas informações comparativas dos dois produtos, baseado nas informações de catálogo e nas percepções de um pequeno grupo de escaladores de Petrópolis que já usaram os dois produtos. Segue abaixo um resumo deste comparativo, considerando o uso exclusivamente para escalada esportiva em rocha ou indoor.



  • Peso: no quesito peso, vantagem para o GRIGRI, que pesa 235g contra 260g do SUM.

  • Diâmetro das Cordas Utilizadas: O GRIGRI trabalha com cordas de 10mm a 11mm. Já o SUM trabalha entre 9,1mm a 10,5mm. Vantagem para o SUM neste ponto, pois trabalha dentro de uma faixa maior, além de acompanhar a tendência de redução do diâmetro das cordas de escalada. Já se quiser aproveitar sua velha corda de 10,5mm peluda (e conseqüentemente com diâmetro aumentado) esqueça o SUM. A corda simplesmente não vai entrar.


  • Top Rope: Nos testes feitos não percebemos nenhuma diferença digna de nota. Os dois aparelhos funcionam muito bem.


  • Segurança para o Guia: Neste quesito o SUM dá um banho no GRIGRI. É realmente muito fácil liberar a corda, mesmo na hora que o guia puxa uma ou duas braçadas de corda para costurar. E dá para fazer isso indistintamente com as duas mãos, pois o SUM é simétrico. No GRIGRI muitas vezes é necessário travar o dispositivo de freio para dar corda, sempre puxando com a mão esquerda.


  • Queda do Guia: Segundo a documentação técnica da Faders, o SUM se comporta como um freio dinâmico, ou seja, libera um pouquinho de corda durante uma queda. Isso é uma característica extremamente desejável, pois reduz o impacto nas proteções e no próprio corpo do escalador. Essa característica dinâmica do SUM é proporcionalmente mais sentida com cordas de diâmetro menor ou com capa mais nova. Nos testes que fizemos tivemos a percepção da queda ser realmente um pouco mais suave, comparada com a pancada mais seca sentida numa queda com GRIGRI.


  • Rapel ou Descida de “Baldinho”: Os dois quase se equivalem, sendo que numa corda com diâmetro perto do limite superior de cada um dos aparelhos, parece ser necessário fazer mais força na alavanca do SUM. Pesa a favor do SUM a questão da simetria, pois é possível usar indistintamente as duas mãos nesta operação.


  • Facilidade de Uso: Os dois são bem fáceis de usar e essa facilidade pode induzir ao erro. Por isso é imprescindível ler os manuais de cada produto. O SUM parece ser um pouquinho mais “a prova de erro”, mas isso só o tempo vai comprovar. Especialmente na colocação da corda, parece ser mais difícil inverter no SUM do que no GRIGRI.


  • Limpeza: Nesse ponto o GRIGRI é reconhecidamente fácil de limpar em todas as suas partes. No caso do SUM, só o tempo vai dizer, pois tivemos a impressão de que existe uma parte do produto que poderia acumular sujeira, com difícil acesso para limpeza.

  • Outros Usos: Os dois produtos tem diversos usos adicionais, como montagem de tirolesas, resgate, ascensão, etc., sendo aparentemente equivalentes. Não fizemos testes dessas funcionalidades adicionais.


  • Auto-Segurança: Neste quesito vale lembrar que na documentação dos fabricantes não existe a possibilidade deste uso. Conta a favor do GRIGRI o fato da comunidade de montanhistas já ter desenvolvido uma adaptação para auto-segurança. Até onde sei ainda não existe alguma adaptação confiável para o SUM.

  • Preço: Neste quesito, boa vantagem para o SUM, que custa cerca de 70% do preço do GRIGRI.


  • Escalada Tradicional: Pessoalmente não usaria nenhum dos dois, que são pesados e não servem para rapel em corda dupla. É até possível rapelar em “auto-baldinho” ou travar uma ponta da corda e rapelar na outra, mas esses procedimentos são pouco práticos, principalmente em vias mais longas com vários rapeis. Numa seqüência grande de rapeis pode haver problema de dissipação de calor, crítica nos dois produtos. Sendo assim, mesmo levando pra montanha um GRIGRI ou SUM, seria recomendável levar também um freio ATC ou oito. Me parece mais prático levar um Petzl Reverso ou o recém-lançado Black Diamond ATC Guide, produtos mais leves e baratos que tem um pacote de funcionalidades adequadas ao uso em montanha. Para aqueles que, ainda assim, queiram ter uma maior garantia de que serão seguros por seus participantes numa queda, O SUM parece ser uma opção melhor pelo fato de ser um freio com alguma característica dinâmica.



Conclusão: A despeito da confiabilidade do GRIGRI e da grife Petzl, o SUM demonstrou ser um produto a considerar numa compra. Em qualquer escolha é importantíssimo buscar a leitura das informações técnicas disponibilizadas pelos fabricantes e praticar o manuseio antes de usar numa situação real. O maior risco associado ao uso desses dois produtos é a ilusão do produto infalível. Maiores informações nos sites dos fabricantes: http://www.petzl.com/ e http://www.faders.es/ .

Comparativo - Mochilas Equinox para Escalada

Resolvi fazer um comparativo entre algumas mochilas de escalada, basicamente três modelos da Equinox, que pela especificação são destinados à caminhada de aproximação e à escalada propriamente dita. Não existe aqui nenhuma intenção em promover tais produtos ou a marca em questão, e as características positivas e negativas e cada mochila podem ser encontradas nos produtos dos outros fabricantes.

Mochila Equinox modelo Face Leste, 10 litros

A Face Leste é uma mochila compacta e muito inteligente. Dentro dela cabe um cantil flexível, um pequeno lanche e um calçado cano-baixo. Tudo que você precisa numa escalada de um dia. Além disso, a cinta abdominal pode ser retirada, assim como as cintas para carregamento da corda. Para completar o bom conjunto, existem dois racks para pendurar material fazendo o papel de uma bandoleira, muito útil para escaladas em móvel.

Na caminhada de aproximação, a sapatilha, as ferragens, o baudrier e o saco de magnésio vão dentro da mochila. A corda vai por trás, fixa com cintas. O excedente por ir pendurado numa providencial daisy chain traseira. Na hora de escalar, pode ser interessante regular a mochila um pouco mais alta no corpo, dando espaço para as mãos alcançarem o saco de magnésio.

Mochila Equinox modelo Grande Leste, 17 + 8 litros

A Grande Leste é um pouquinho mais espaçosa do que a Face Leste, acomodando mais facilmente o material de escalada e eventualmente algum agasalho ou lanche mais reforçado. Também conta com compartimento para cantil flexível, racks para material, cintas abdominais removíveis e daisy chain traseira. Na Grande Leste a corda vai por cima, fixa por duas cintas facilmente removíveis. A grande diferença está no bolso externo expansível, que aberto acrescenta 8 litros na capacidade da mochila. Isso é providencial para quem escala de capacete. Acredito que deva ser esta questão que envolva a decisão na compra de um desses dois modelos.

Durante a escalada a Grande Leste também tem a característica de ficar compacta junto ao corpo, regulada um pouco mais alta em relação à posição de caminhada para permitir o fácil acesso das mãos no saco de magnésio.

Mochila Equinox modelo Kiihú, 40 + 10 litros

A Kiihú já é uma mochila bem maior. Com 40 litros permite acomodar todo o material de escalada, incluindo a corda e o capacete no seu interior, o que somado à sua construção garante um conforto adicional em caminhadas de aproximação mais duras. No caso de se levar muito material, a corda pode ser acondicionada externamente numa posição onde quase não existe aquele incômodo balanço. A Kiihú conta também com compartimento para cantil flexível, racks para material, cintas abdominais removíveis e daisy chain traseira, além de uma providencial abertura lateral que permite pegar aquele material lá no fundo da mochila. Completa o conjunto um bolso traseiro expansível que acrescenta 10 litros à já espaçosa mochila.

Devido às dimensões da mochila, o saco de magnésio fica melhor acomodado na frente do escalador. Se na hora de escalar ainda tiver bastante peso na mochila é recomendável não retirar as cintas abdominais, para evitar um eventual desequilíbrio causado pelo deslocamento da mochila nas costas.

Conclusão:

As mochilas compactas para escalada como a Face Leste e a Grande Leste, usadas em conjunto com cantil flexível, são inovações que vieram para ficar. Com a prática você aprende a levar apenas o necessário e no fim das contas escala com muito conforto. Por algum motivo vejo muita gente retirando os racks para material, mas não vejo nenhum empecilho neles e até os acho muito úteis quando levo material móvel. O calçado ideal é a sandália ou bota de cano baixo, pois uma bota volumosa pode ser complicada de acomodar na hora de escalar. Pra quem tem o hábito de escalar de capacete a Grande Leste é a melhor opção. Caso contrário a Face Leste dá conta do recado.

Já uma mochila como a Kiihú é uma ótima opção para se levar em conquistas ou em escaladas longas ou complexas, ou ainda que envolvam longas aproximações. Se na sua lista estão itens como lanches reforçados, corda extra, material móvel, agasalhos, material de conquista, etc., a possibilidade de acomodar tudo dentro da mochila garante um conforto extra na caminhada de aproximação e principalmente durante a escalada.