sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Escalada e Meditação - Parte 1

Muitos escaladores treinam forte para subir de nível. Via de regra esses treinos são focados na parte técnica e física. O resultado é uma obvia evolução na rocha, mas nem sempre conseguimos escalar, ou principalmente guiar, no nosso real limite. E essa diferença muitas vezes se deve a fatores psicológicos.

Quem não se lembra de ter desistido de mandar uma passada por medo de cair, ou de passar num lance fácil de forma atabalhoada, ou até ter bobeado num procedimento de segurança por falta de atenção?

Lembraças melhores são daqueles dias em que se supera um lance difícil ou exposto, com a mente tranquila, como se não houvesse a mínima possibilidade cair. Nesses momentos a mente está totalmente focada, sem nenhum pensamento perdido. Pura inteligência corporal. É comum nesses momentos um "estreitamento" da percepção para os limites dos apoios em uso e as passadas imediatamente a frente. 100% de atenção e 0% de dispersão.

Esse estado, que se alcança em alguns momentos e com mais facilidade em vias longas, é semelhante ao estado meditativo.

O estado meditativo é o estado onde se cessa a "metralhadora" de pensamentos dispersos da nossa mente. De forma resumida, meditar é não pensar. Pode ser em silêncio, imóvel em posição de lotus ao bom estilo budista, ou pode ser realizando alguma atividade estando totalmente focado, sem pensamentos dispersos.

Monges budistas buscam o estado meditativo em todos os momentos do dia, estando na posição de lotus ou caminhando ou até lavando vasilhas. 100% de atenção e 0% de dispersão.

Foi nesse estado mágico que o corredor Joaquim Cruz ganhou um ouro olímpico. Totalmente concentrado, correu e venceu, e simplesmente não se lembra de nada que tenha acontecido a sua volta.

Na olimpiada seguinte o mesmo Joaquim Cruz largou, se distraiu olhando a própria imagem no telão do estádio, perdeu o foco e perdeu a prova.

Então, a proposta aqui é que os escaladores desenvolvam a atenção 100% para evitar o que ocorreu com o Joaquim Cruz, que como a maioria de nós, entra e sai do estado meditativo de forma aleatória, nem sempre estando com atenção plena quando isso é necessário, ou seja, quando estamos guiando aquela passada sinistra longe da proteção. Ou quando temos que tirar aquela derradeira energia para mandar a última passada daquele boulder.

E o caminho é se juntar a um grupo de Meditação, tentando estender o aprendizado e a prática para alem dos limites da aula. E principalmente assumindo o comando do estado mental na hora de escalar. Vai fazer uma grande diferênça.
 

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